segunda-feira, 5 de maio de 2014

GOOD ROCK - Playlist

Ok.
Concordo com qualquer um que a trama bagunçada do seriado Supernatural torna o mesmo desinteressante e cansativo. Porém, a série tem um mérito: a trilha sonora baseada numa seleção de músicas da década de 70 e 80.
As vezes até assisto a alguns episódios somente por causa da trilha sonora. Por isso mesmo, selecionei algumas músicas para vocês curtirem numa playlist que criei e estou disponibilizando agora.

BEST SONGS OF SUPERNATURAL by marcos reis on Grooveshark



enjoy

Spider Man 2 - Curtindo a vida adoidado...




Semana passada eu vi o novo filme do Homem Aranha. Bom, para começar devo dizer que este é o meu super heroi de quadrinhos preferido. Porque, guardadas as proporções, ele é o que mais se aproxima de uma pessoa real. Tem problemas financeiros, familiares, de relacionamentos, crises éticas e morais e nem sabe o que DEVE fazer, ou quando sabe nem sempre tem o resultado esperado. Muito eu (risos).
Bem, o segundo filme da franquia dirigida por Mark Web (sim, parece que os produtores escolheram o diretor do filme numa espécie de brincadeira de trolagem), se manteve fiel a proposta do primeiro. Quer dizer, a "paleta de cores" do filme é mais escura, apesar de que neste há mais cenas diurnas que no primeiro. Também manteve um bom trabalho com a execução do 3D do filme, que nas cenas em que o escalador de paredes se balança pela cidade são realmente de prender o folego. Mas, achei que deixou a desejar na trilha sonora, apesar de ter dado um destaque na canção de Phillip Phillips no meio do filme em todo o restante a música passa praticamente despercebida. Sempre penso que filmes perdem muito quando deixam isso acontecer, poís a música, na minha opinião, tem sempre a função de acentuar os momentos e gravar na memória do indivíduo os mesmos... (entenderam porque estou sempre de fones de ouvido? risos)
De critica a direção eu diria apenas que achei a computação gráfica excessiva e muito caricata. Isso fica claro na cena onde o Electro (Jamie Foxx) luta com o Homem Aranha/Peter Parker (Andrew Garfield) na central de eletrecidade. A luta não ficou muito boa, para dizer a verdade ficou um pouco chata. Mas o pior foi o Electro fazendo os pilares de energia (acho que eram isso) acenderem e apagarem no ritmo de uma música. Até o Aranha faz uma piadinha com isso. Qual é? O desejo secreto do Electro era ser DJ? Ficou ruim.
Vou citar o que o site legião dos herois comentou sobre a atuação de Andrew Garfield:
"Andrew Garfield é o Peter Parker/Homem-Aranha definitivo. Durante todo o tempo chega a dar gosto notar como o ator adora o que faz por ser tão fã do personagem, ele é espontâneo em suas falas e seus atos! O jeito que o Aranha se move e solta suas conhecidas piadinhas de forma incessante fazem os olhos brilharem, são as páginas que cresci lendo em forma de filme. Os poderes do herói também foram mais explorados, utilizaram uma técnica envolvendo slow-motion para mostrar como funciona o sentido aranha que ficou sensacional, aliás vale enfatizar aqui que o herói dá uma verdadeira aula de salvamentos durante todo o filme, todas as suas batalhas ele impede que qualquer um se machuque, se preocupando primeiramente com os cidadãos de bem e a segurança de todos; e em tempos onde até o maior escoteiro dos quadrinhos é descuidado com tais coisas, isso conta muito."
Senhoras e senhores, no coments.
Vou dar um desconto a super velocidade e o coração mais desejado pelos cardíacos através do mundo que o Peter desenvolveu para não parecer chato. Não tenho nada a dizer sobre a direção pelo momento, quem quiser falar algo fique a vontade pois me ajudaria a ver outros aspectos do filme. ;)
Bom, só pra cumprir tabela um pequeno resumo do filme:
Em Homem Aranha 2, Peter Parker lida com as consequências do primeiro filme. Odiado por muitos, e protegido por outros tantos o filme mostra o dia a dia agitado do jovem herói que precisa conciliar sua rotina de estudante, adolescente que tem que trabalhar para ajudar financeiramente a tia, namorado e super herói. Como não está fácil para ninguém Peter tem problemas de culpa pela morte do pai da namorada o Capitão Stacey (primeiro filme) a quem havia prometido afastar a namorada, Gwen Stacey (Emma Thopson) [Aranha entendo tua dificuldade, tamo junto!] (risos).
Não bastasse isso, e o cotidiano agitado de defensor de Nova Yorque, Peter convive com o fantasma de ser supostamente deixado para trás (rejeitado) pelos pais e não saber o porque do que acontecera, nem sobre a morte desses pais, nem sobre o porque eles deviam partir deixando-o para trás. Vamos engrossar o caldo ainda mais, volta a cidade devido a morte do pai o antigo melhor amigo de Peter, Harry Osborn (Dane DeHaan), que revela a Peter que está morrendo de uma doença que causa a degeneração celular do seu corpo, como havia feito com o seu pai Norman Osborn (Chris Cooper) e que somente o sangue do Homem Aranha (que misteriosamente ganhou um poder de cura like a Wolverine) pode cura-lo. É a "wolverinização do universo marvel".
Problema pouco é bobagem, então acrescentamos ao caldo o super vilão da vez, Max Dillon (Electro), vivido por Jamie Foxx. Estabanado, carente e esquizofrênico Dillon se torna obcecado pelo cabeça de teia preferido de Nova Yorque, obsessão que se torna em fúria após ganhar os poderes elétricos devido ao acidente ocorrido na empresa de Norma/Harry, a OSCORP.
Por causa disso, Peter, durante o filme, empreende uma demanda para descobrir o passado de seus pais. O que traz revelações tanto para ele quanto para Harry.
Em meio a todos estes problemas Peter tem que lidar com o afastamento de Gwen, primeiro iniciado pelo próprio Peter e depois intensificado pela possibilidade de mudança de cidade da moça. Nesse processo, Peter descobre que Gwen é o peso de que ele precisa para fazer as escolhas certas, como afirma Harry ao conversar com Gwen durante o filme. Não é bunitinho <3. Por essas e outras que muitos tem afirmado que o Peter Parker se tornou um emo e que o filme se concentra demais nesses conflitos sentimentais do casal.
Porém, devo discordar dessas criticas, quem é leitor dos quadrinhos aracnídeos sabe que a vida pessoal de Peter Parker sempre foi o mote principal das histórias, muitas vezes até mais que as batalhas "super heroisticas".
Como vêem, é muita coisa num filme. Muita mesmo. Mas, apesar de alguns momentos ficarem cansativos, o filme é bom. A diversão no 3D é caprichada e o humor continua bem balanceado no filme (se cuida Homem de Ferro). Mas, além desses comentários "estéticos", o que eu achei?

Olha só,
1) Não há acasos;
2) O que deve determinar/legitimar a realidade e o agir prático de cada um são as emoções;
3) A "wolverinização" do Homem Aranha;

Afirmar que não há acasos aqui não equivale a dizer que a história seja teleológicamente determinada por uma força fora da história como Deus ou o destino. Minha afirmação vai mais no sentido de que, segundo o filme, a história é uma coleção de intervenções do homem sobre a realidade. O filme começa com as engrenagens do relógio de Richard Parker e a partir dele são apresentadas as intervenções genéticas que o cientista, pai de Peter, faz na busca de uma cura para Norman Osborn. Estas intervenções é que vão acabar transformando o futuro Peter e a fuga de Richard e Marry Parker é o evento responsável pela transformação da Oscorp no império do mal que o Aranha deve combater. Não está satisfeito com isso? O relógio é o elemento simbólico dessa mensagem no filme. Sabem onde mais ele aparece? Na luta final, entre Peter e Harry.
Com essa luta o diretor indica claramente que os eventos ocorridos na torre do relógio são consequência direta da escolha de Peter em descumprir a promessa feita ao Capitão Stacey. E a consciência disso é o que paralisa o Aranha após a batalha. A premissa do filme, então, é: a história é o resultado das escolhas concretas que você faz.

Isso se torna problemático a partir da mudança na personalidade/comportamento do personagem. Peter sempre foi um adolescente introvertido nerd style. Nas histórias em quadrinhos e na primeira trilogia isso funcionava bem porque o personagem ao se tornar um heroi adotou um estilo ponderativo staurológico (que assume a cruz e vai pro sacrifício). Nessa nova franquia, no entanto, e especificamente nesse segundo filme. Peter faz as vezes do adolescente descolado. Claro, ele tem preocupações e responsabilidades, isso aparece quando ele se nega a doar sangue. Mas o crivo utilizado para tomar suas decepções são suas emoções. Note a dificuldade que ele tem em deixar Gwen partir. A reação abrupta com relação a Tia May quando essa pede que ele esqueça o passado dos pais. E a obsessão que isto se torna para Peter.
Peter é determinado por suas emoções, a mensagem é a de que a vida se define pela fruição irrestrita de nossas sensações. Ou dito de outra forma eu poderia afirmar que a afirmação da ameaça de Electro é que o homem só realiza a sua existência quando se "liberta" das amarras morais que o reprimem. Algo no sentido freudiano ou nietzschiano.
O discurso de Gwen parece reforçar essa compreensão. A vida é curta demais para não fazermos aquilo que sonhamos, para darmos um sentindo para as nossas vidas. É o discurso que traz o Aranha de volta a ativa.

Penso que este seja o filme mais afinado com a cultura contemporânea, nos seus sentidos mais imediatistas e de afirmação da "presentificação da esperança", quer dizer, da afirmação que o que podemos esperar de bom para a vida está na vida. O que Tia May afirma, ao final, sobre precisar seguir em frente mesmo diante do sofrimento que é isto não significa muito mais que a necessidade de estratégias de enfrentamento do sofrimento (coping).
Esse ultimo comentário não é propriamente meu, ouvi de um pastor da igreja que frequentei há um tempo atrás. Ele falava que esta  capacidade de se curar rapidamente, própria do Wolverine, agora transferida para o Aranha, é simbólica de nossa sociedade que anseia a manter a juventude e que se tornou incapaz de lidar com a permanência do sofrimento. Não vou continuar isso aqui, deixo para vocês pensarem.
No final, o Aranha termina submerso aos mesmos problemas que havia iniciado. O que é um indicador que as observações acima não estão muito longes da mensagem do filme. Porque uma vez em que se cria uma estratégia para enfrentamento do sofrimento o indivíduo pode voltar a rotina antiga mesmo que esta não tenha se alterado fundamentalmente. Proposta intrínseca a estratégias de enfrentamento do sofrimento que propõem mudança do indivíduo sem alteração das condições sociais em que ele está inserido, sejam elas religiosas ou seculares.
Citando Heidegger, "o homem é o lugar onde o ser se manifesta", penso que o filme transmite especificamente isso a "experiência fática da vida como ponto de partida" para o pensamento e para o viver.

p.s.: a utilização dos termos da psicologia foi para provocar os psicólogos, eae pessoal, a despeito da utilização ortodoxa dos conceitos, o que diriam da analise e da capacidade de resiliência do homem moderno, representado pelo Parker?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

ROBÔS, ZUMBIS E HUMANOS

Eis aí uma pergunta interessante: Qual a diferença entre um robô, um zumbi e um ser humano?
A primeira resposta deveria ser: Zumbis e Robôs, são seres ficcionais, enquanto seres humanos existem na realidade.
A segunda resposta (fazendo um exercício de imaginação e abstraindo o fato de zumbis e robôs não existirem objetivamente), a resposta seria: somente o ser humano possui vida.
Mas o que entendemos quando falamos sobre esse conceito, vida? Pra responder a essa pergunta proponho que façamos esse exercício de imaginação. Vamos admitir que robôs e zumbis existam objetivamente, tanto quanto seres humanos e comparar suas formas de existência, para termos claro o que se pode chamar de vida.
Ora, a vida, poderiam dizer, é a capacidade de pensar, se mover, tomar decisões e interagir com outros seres vivos.
Se continuarmos nessa linha de raciocínio, chegaremos a uma conclusão de que bem pouca coisa nos diferencia, nós seres humanos, dessas criaturas imaginárias que são os robôs e os zumbis.
Veja o robô, por exemplo, a expressão é originária de uma língua cheka, pelo escritor Karel Capec O escritor checo introduziu a palavra "Robô" em sua peça "R.U.R" (Rossum's Universal Robots), encenada em 1921. O termo "robô" realmente não foi criado por Karel Čapek, mas por seu irmão Josef, outro respeitado escritor checo. O termo "Robô" vem da palavra checa "robota", que significa "trabalho forçado".
Um robô pensa. Ele é capaz de julgar uma situação e tomar a decisão de modo a cumprir sua tarefa com eficiência. Outro escritor de ficção cientifica que se dedicou a falar como seriam esses serviçais de metal foi o russo radicado nos Estados Unidos, Isaac Asimov, ele ficou conhecido pela coletânea de contos, Sonhos de Robô, Eu Robô e O Homem Bicentenário, foi autor de mais de quinhentos contos mas esses três são os mais conhecidos e já foram parar na tela do cinema. O mais interessante nos contos de Asimov é que seus personagens robóticos são capazes de pensar segundo as Leis da Robótica, inventadas por ele.
Então, um robô pensa, se move, pode falar e interagir com o ambiente e com os seres a sua volta respeitando um determinado conjunto de leis.
E quanto ao zumbi? Um zumbi é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular tipicamente como um morto reanimado e por isso um ser humano irracional. Histórias de zumbis têm origem no sistema de crenças espirituais do Vodu afro-caribenhos, que contam sobre trabalhadores controlados por um poderoso feiticeiro. Esta criatura é um ser humano dado como morto que, segundo a crença popular, foi posteriormente desenterrado e reanimado por meios desconhecidos. Devido à ausência de oxigênio na tumba, os mortos vivos seriam reanimados com morte cerebral e permaneceriam em estado catatônico, criando insegurança e medo nos vivos. Como exemplo desses meios, pode-se citar um ritual necromântico, realizado com o intuito maligno de servidão ao seu invocador.
A figura dos zumbis ganhou destaque num gênero de filme de terror, principalmente graças ao filme de 1968 "Night of the Living Dead" de George A. Romero.
Por fim, vamos falar do ser humano. Conforme debatemos no ultimo texto, e nas aulas que se seguiram, o que caracteriza o ser humano é a capacidade de produzir e reproduzir cultura. A partir dessa especificidade ele se relaciona com o mundo.
A cultura é a “programação” que é inculcada em cada um e em todos nós desde crianças e que nos diz como pensar, como nos portarmos nas situações e como reagirmos a essas situações que nos envolvem diariamente.
Como aconteceu no episódio que assistimos de House Medical Doctor onde o editor através da cirurgia realizada pela equipe de House tentar se reajustar à realidade. No episódio por causa de um distúrbio hormonal ele passava por situações que não conseguia se controlar e fugia às “regras” de boa conduta, ele quebrava o contrato social. Mas que graças “às maravilhas da medicina” ele pode ser “consertado”.
Um outro exemplo da cultura como programadora do comportamento humano é a sociedade de consumo que debatemos. Nessa programação a capacidade de raciocinar é excluída em favor de um sentimento, uma compulsão, a de consumir com velocidade. Como foi discutido em sala de aula, que o especifico da sociedade de consumo não é o consumo em si, mas a capacidade de autoafirmação contida no ato de apresentar com velocidade produtos novos e sempre novos, criando assim uma sensação de poder e de aceitação por parte daqueles que estão à volta ao mesmo tempo em que essa mesma velocidade gera a sensação de vertigem por não ter o tempo necessário para raciocinar sobre as escolhas que estamos fazendo.
Ao ser definido como um ser social, quer dizer, um ser que depende da cultura compartilhada, então, o ser humano exibe dois aspectos fundamentais da sua existência. Ele depende de sua adequação a essa cultura, pois se não se adequa ele pode ser excluído da sociedade, que foi o caso do paciente do dr. House. Por outro lado se ele se integra totalmente à cultura pode se transformar em um ser incapaz de pensar realmente.

Nesse ultimo sentido, nos aproximamos perigosamente de uma existência como a dos robôs e dos zumbis. Se aceitarmos tacitamente o que a cultura nos diz sem uma previa reflexão passamos a ser meros cumpridores de ordens com caminhos préprogramados como os robôs. E dentro de uma cultura de uma sociedade de consumo como a nossa que produz desejos que nos impulsionam a andar como que vagando para uma mera satisfação de pulsões internas passamos a nos assemelhar aos zumbis. Que só conseguem pensar em satisfazer esses desejos que os impulsionam.
Foi nesse sentido, de refletir sobre o que motiva cada um que o professor, interpretado pelo ator Robert Redford no filme Leões e Cordeiros, chamou seu admirável aluno Toddy para conversar. O professor percebeu em Toddy, inicialmente, essa determinação de não aceitar como algo natural qualquer coisa que tentassem “empurrar” para ele. Em um dado momento do filme ele retruca para um colega: “Eu não li o texto mais eu sei pensar”. Com isso ele quis dizer que não precisa aceitar algo somente porque as pessoas estão dizendo que isso é o certo para ele.
Essa tendência, de querer nos forçar a aceitar tudo como algo natural e preestabelecido é uma característica da cultura e se humanizar, entrar no processo de humanização, significa não aceitá-la de forma acritica, mas sim pensá-la e somente então decidir se é de fato o que queremos ou não. Essa ação foi expressa por atos pelos outros dois alunos no mesmo filme através de uma expressão, o engajamento.
Para se tornar um ser humano em nossos dias é necessário se engajar, conhecer o sistema que nos cerca e nos condiciona e então decidir se queremos ser mais uma engrenagem nesse sistema ou se queremos desarticulá-lo.
Não fazer isso, significa que você pode estar se transformando num zumbi ou num robô. O filme citado termina com o personagem Toddy assistindo pela tv a nova ofensiva amerina ao Iraque, tal cena quer transmitir, simbolicamente que a decisão de o que fazer com a própria vida depende de cada um dos que estão assistindo.

O que você vai fazer?

Saving Mr. Banks; "o que nos acontece na infância nos marca para toda a vida"

"Ventos do leste, magia chegando. como se algo brilhante estivesse para acontecer. Náo consigo prever o que o destino nos reserva. Mas sinto que está para acontecer. Tudo que já aconteceu antes..."

Assisti a Saving Mr. Banks a pouco. Devo admitir que o filme me surpreendeu positivamente.
O filme é visualmente despretensioso, o que chama a atenção posto que é um filme que envolve o "mundo de Walt Disney". Quer dizer, está tudo certo, figurinos e ambientação, porém nada que se destaque. Mesmo a fotografia e a iluminação podem ser consideradas no maximo moderadas.
O titulo do filme em inglês, no entanto, é extremamente apropriado, o que me deixa extremamente decepcionado para a tradução em português (Walt nos bastidores de Marry Poppins).
Por falar em moderação, devo destacar a atuação de Tom Hanks no filme, sua moderação no papel de Walt só mostram que o ator não perdeu a pegada, ao contrário, o personagem por não se destacar em demasia da o tom certo ao filme. Ou seja, Emma Thompson ganha a proporção adequada para desenvolver a intragável Pamela "P.L." Travers (autora de Marry Poppins).
O filme aborda a parte final da conturbada e problemática negociação entre Disney e Travers pelos direitos da adaptação do livro de Travers para o cinema. Emma Thompson vive a australiana radicada na Inglaterra que se vê "obrigada"a viajar para os Estados Unidos da América, por força da necessidade financeira, para encerrar as negociações com o obstinado Disney (Tom Hanks). No entanto, a autora se recusa a vender a "sua Poppins" que "é da família" para o império de Disney, que segundo a sua opinião era um homem preocupado exclusivamente com dinheiro e lucro.
Não precisou de mais que alguns minutos do filme para eu me sentir pessoalmente incomodado com a postura antipática da metódica e rabugenta senhora Travers e tenho certeza de que muitos que puderam ver ao filme concordam com a minha opinião.
O filme é cortado por flashbacks da infância da senhora Travers na Austrália e a sua relação com o pai, Travers R. Goff (vivido por Collin Farrell, que está bem no papel) o que gradualmente explica a amargura e intolerância da personagem e que modifica a perspectiva sobre a mesma dando ao filme uma dimensão humana inesperada.

Mas, o que me pegou neste filme foi a tácita afirmação de que o que nos acontece na infância nos marca para toda a vida (afirmação presente também, embora de um modo diferente, no EXCELENTE The Blind Side (Um Sonho Possível, no Brasil) filme também dirigido por John Lee Hancock).
Gradativamente o filme insinua que elementos presentes no livro de Travers, Marry Poppins, foram extraídos
da conturbada relação da pequena Hellen Goff (verdadeiro nome de P. L. Travers) com o pai alcoólatra. Na verdade, ao apresentar o processo de desencantamento da menina com a figura do pai o filme acaba por justificar o comportamento austero e intransigente que a senhora desenvolveu, isso cumpre a função de captar, ao final do processo, a simpatia do espectador, pelo menos a minha conquistou.


O filme acaba bem, mas eu não diria que tem um "final feliz".
O filme é rodado ao final e Travers até comparece ã première do mesmo em Los Angeles. Porém, a amargura da personagem é mantida, em meio a algumas nuanças eventuais de reações emocionais. Assim, o filme parece concordar com uma das afirmações colocadas na boca da senhora Travis durante o filme, a afirmação de que não se deve encarar a vida armado de capricho e sentimentos, de não disfarçar a escuridão do mundo (para as crianças) que eventualmente e inevitavelmente todos nós conheceremos (no meu caso já conheci, rs) com musicas e com aqueles sentimentos adocicados.
Com isso, apesar da nítida impressão de uma superação do passado ser transmitida, a afirmação eventual de que eventos do passado, principalmente os eventos da infância, marcam-nos profundamente vida a fora parece não apenas ser mantido, mas reforçado. (Premissa freudiana novamente se fazendo presente em nossa cultura de massas).
Sobre a irreversibilidade dos traumas vividos, ou dizendo de uma outra forma, da incapacidade de superação desses traumas. Esta parece ser a afirmação subterrânea do filme Saving Mr. Banks.
Os elementos do filme que me indicam isso, não estão presentes apenas no comportamento da personagem de Emma Thompson, mas, sobretudo, no modo como o diretor encerra o filme: recitando a frase inicial: "Ventos do leste, magia chegando. como se algo brilhante estivesse para acontecer. Não consigo prever o que o destino nos reserva. Mas sinto que está para acontecer. Tudo que já aconteceu antes..."
Conclui, a partir disso, que o filme narra a história de uma pessoa presa no passado, incapaz de superá-lo e que por esse motivo se apega as memórias do passado tanto quanto na sua forma sublimada, o personagem Mr. Banks.
Manter a figura de Banks, o personagem do livro da senhora Travis, a salvo aqui, então, ganha um novo significado. Significa olhar com o cuidado necessário para não tocar num ultimo baluarte que mantém a estabilidade psicológica de uma pessoa profundamente marcada pela vida. Algo assegurado por Disney (Tom Hanks). E com isso, o filme parece fazer uma ultima afirmação, a de que para preservar a vida algumas doenças precisarão ser mantidas. Foi isso que me surpreendeu positivamente no filme. Pois, é sinal de dominação pela opressiva cultura perfeccionista de nossos dias a busca compulsiva pela saúde (psicológica) dos indivíduos. Esta compulsão muitas vezes pode embaçar a visão de que estamos tentando, no afã de ajudar, retirar algo que é imprescindível para a vida do outro. É necessário um olhar atento para tal dimensão, um olhar interessado e uma disposição incansável para manter essa sensibilidade ao se perceber isto.
Talvez, esse seja o mérito do filme, produzir uma inquietação nos que assistirem ao filme no sentido de que uma cura nem sempre caminhará pelos caminhos e definições de "cura" socialmente aceitos. Pensar numa outra forma de normalidade e de sanidade, para além do que é socialmente aceito e proposto pela sociedade do perfeccionismo em que estamos.

Gostei do filme. Daria uma nota 3,5 numa escala de 0 até 5.

Estudos Anticoloniais, Pós-Coloniais, Decoloniais, Subalternos e Epistemologias do Sul

Recebi esta lista no whatsapp, enviada por uma amiga. Reposto o texto na integra para quem interessar começar a se aprofundar no tema. ...