quinta-feira, 16 de julho de 2015

DIVERTIDA MENTE - INSIDE OUT




Quem está no comando da sua cabeça?
A pergunta aparentemente absurda é a premissa do filme Inside Out, Divertida Mente. E é justamente a mesma questão que nos fizemos ao sairmos do cinema ontem onde junto com meu casal de amigos, Fernando e Kamilla, vimos Insid Out, ou na tradução brasileira: DIVERTIDA MENTE.

 Antes de começar Vale então avisar: O TEXTO QUE SEGUE CONTEM SPOILERS.

Inside out conta história de uma parte da vida de Hayle. Uma garotinha de 11 anos de idade do Minesota. Hayle se vê em uma grande transformação quando sua família se muda para São Francisco para acompanhar o novo emprego do pai. A tarefa de adaptação ao novo contexto de vida não é fácil. Mas, como uma boa filha Hayle quer apoiar os seus pais. E camufla seus reais sentimentos sobre o novo contexto de vida. Este é o contexto para Inside Out. O filme, no entanto, focaliza toda a sua ação no "interior" de Hayle.
Especificamente nas emoções da menina enquanto passa por esta fase penosa. Para isso, o filme parte do nascimento da menina e apresenta a gênese de suas emoções básicas: a Alegria, a Tristeza, o Medo, a/o Raiva e a/o Nojo.
O filme é muito didático ao apresentar a gênese das emoções e seu papel no desenvolvimento da personalidade. Segundo o filme as emoções nascem das experiências de vida concretas pelo qual o indivíduo passa. Dessas experiências também surgem as memórias. A carga emocional de uma determinada memória pode defini-la como temporária ou permanente. É muito legal a brincadeira do filme em que as memórias de um dia ficam armazenadas na central junto com as emoções sendo arquivadas somente de noite. Quer dizer, memórias e emoções de um dia ficam guardadas no sistema limbico sendo enviadas para o cortex somente quando dormimos.
Memórias permanentes com maior carga emocional são o que o filme chama de memórias base, isto é, memórias que dão origem às ilhas ou cidades de sentimento. Hayle possuia cinco ilhas/cidades. A cidade da bobeira, cidade do hokey, cidade da amizade e a cidade da família. Veja, estas cidades na verdade são os referênciais valorativos que auxiliam o indivíduo a tomar decisões. Elas nascem de experiências importantes, experiências cujas memórias possuem fortes conotações emocionais.
O desenvolvimento das cidades de emoções, no entanto, não depende somente da carga emocional de uma determinada experiência, ela depende também da interiorização de conceitos e valores culturais bem como do reconhecimento da existência de outros exteriores e diferentes do "Eu". As cidades da amizade e da honestidade de Hayle apresentam esta afirmação. A cidade ou ilha da família é a primeira e mais importante a se formar porque para a criança a família é o centro dos acontecimentos do universo. É a partir das experiências familiares que serão formadas as demais cidades. A ilha cidade da bobeira se forma das brincadeiras com o pai, a ilha da honestidade da admissão/reconhecimento da infração ocorrida em casa, a cidade do hokey é formada em consonância com o gosto dos pais pelo esporte. Mesmo a cidade da amizade que admite o mundo social e uma progressiva mudança e distanciamento da família ocorre próximo ao lar, no quintal, na porta de casa, nosnjogos de hokey onde a familia também está presente. Estes referenciais são importantes para a formação da personalidade e para o desenvolvimento da confiança da criança.
O filme então gira em torno deste eixo.
Giddens afirma que a confiança é o senso de estabilidade de que precisamos para dar continuidade a vida. É o véu que encobre a realidade de que não estamos no controle de todos os processos sociais. Quando confiamos conseguimos nos sentir seguros e tomarmos decisões e atuarmos socialmente sem um alto nivel de ansiedade existencial. Winnicott afirma que este senso de segurança que nomeamos de confiança é desenvolvido na infância, na relação que desenvolvemos com nossos pais. Pais presentes e participativos tenderiam a contribuir no desenvolvimento de Indivíduos com menor ansiedade existencial e que tendem a enxergar os erros de uma forma mais positiva.
Talvez seja por isso que Hayle começa a ver desmoronar suas ilhas de sentimento uma a uma. A mudança de cidade não retirou da menina apenas os elementos rotineiros que tornavam sua vida previsível, leia-se que lhe ajudavam a se sentir segura. Mas também trouxe a ausentificação do pai, instabilidade familiar e ausencia de amigos. Os elementos referenciais que a tinham acompanhado até então ficaram mais pálidos nessa nova rotina.
O desenho apresenta esta nova experiência na forma de uma inadequação, a menina não se sente nem alegre nem triste (a alegria e a tristeza saem da sala de controle e vão parar nas memórias de longo prazo (no cortex, aliás as prateleitars onde estas memórias são guardadas emulam perfeitamente a forma do cortex cerebral). Sem saber como se sente Hayle, e todos nós, é facilmente tomada pela raiva, medo ou nojo.
Emoções que já ganhavam força e destaque desde que partiram de Minesota. A raiva e o medo são os comportamentos mais comuns em uma situação de ansiedade existencial e tomam conta com frequência do painel de controle de Hayle na ausência da alegria e da tristeza.
Ao ver ruir cada um dos seus referenciais valorativos, as cidades de sentimentos, a/o raiva cede a resposta mais fácil e bem acabada. A crença/pensamento de que a felicidade está no passado e que para voltar a ser feliz deve voltar a Minesota onde fora feliz um dia. (lógico que estou saltando muita coisa, mas não dá para falar de tudo de uma vez). O pensamento formado pela raiva e destituído dos referênciais valorativos guardados pelas ilhas de sentimentos torna-se facilmente uma ideia obssessiva, que ninguém consegue tirar da mesa/cabeça.
Tendo a pensar que isto se tornou possível também porque até aquele momento Hayle, como toda criança, tinha sido governada somente pela alegria. Para ela não houve um treinamento de como se comportar de forma adequada quando a raiva, o medo, a tristeza ou o nojo estão no comando. A Alegria de Hayle, quem sabe em todos nós era uma soberana egoísta.
A falta desse treinamento em ser comandada por outras emoções causou a instabilidade que levou Hayle a produzir uma outra realidade emocional, esta sim grave e ameaçadora, o sentimento ou sensação de indiferença que surge em Hayle após perder todos os seus referenciais valorativos, cidades de emoções. A resolução desse conflito então se dá através da integração de todos sentimentos. A alegria aprende o valor da tristeza, e das demais emoções, e passa a permitir que todos passem a gerir o comprtamento.
O painel de controle se torna maior e mais complexo. Esferas de emoções se tornam hibridas deixande de ter apenas uma cor só. E mesmo as cores nas esferas de memórias passam a ser mais palidas indicando uma forma balanceada nas emoções dos indivíduos.
Enfim, acho que deu para perceber o quanto fiquei entusiasmado com o filme.
Daria para dizer muito mais sobre ele, e futuramente o farei, mas por hora queria salientar estes aspectos, que estão um tanto obvios no filme. Acho que é um filme que pretende destacar a importancia de desenvolvermos referenciais valorativos que nos auxiliem a superar adversidades e crises do cotidiano, bem como chama a atenção para a necessidade de integrar as emoções no gerenciamento do comportamento sem que haja um maniqueísmo nisto. Observo que hoje em dia, ou será que sempre foi assim?, temos uma tendência, por exemplo, de considerar a raiva e a tristeza de uma forma negativa e tentar excluí-las ou suprimí-las de nosso comportamento.
A afirmação do filme é: todas as emoções contribuem positivamente para a formação da personalidade, precisamos então, aprender a integra-las de uma forma saudavel. Isto proporcionará um desenvolvimento emocional e de referênciais de orientação do comportamento, as cidades crescem e surgem outras novas, que nos ajudarão a superar momentos de crise.

Uma ultima observação: na modernidade muda tudo! Kkkkk

Estudos Anticoloniais, Pós-Coloniais, Decoloniais, Subalternos e Epistemologias do Sul

Recebi esta lista no whatsapp, enviada por uma amiga. Reposto o texto na integra para quem interessar começar a se aprofundar no tema. ...