Comunidade do Vício e o manifesto performático
Local: Dentro de uma grande fábrica de automóveis.
A Sociedade dos Altos ideiais está em batalha atroz com a
Sociedade do Vício. Em meio a batalha Vigilante Noturno encontra o seu
arqui-inimigo Doutor Garra. Eles se encaram e começam a se estudar para o
embate.
- Desista Palhaço. Você e seus parceiros estão fadados ao
fracasso. Seus planos de mergulhar o mundo no colapso e na opressão nunca dará
certo.
- Colapso e opressão? Do que vocês estão falando? Esta noite
estávamos protestando contra essa multinacional que escraviza crianças na
Somália para produzir peças de veículos automotores a baixos custos. A mesma
multinacional responsável pelo pagamento de propina para deputados e senadores
brasileiros para votarem contra leis de proteção trabalhistas.
- Mentira! Não pode nos enganar. Nós vimos pelo noticiário
quando vocês atacaram o prédio da multinacional e quebraram todo o hall de
entrada. Também vimos quando atacaram os policiais com coquetéis molotov. Vocês
são os vilões dessa história e a maior prova disso é o fato de agirem
mascarados para chegarem aos seus objetivos.
- Primeiro: Vocês também estão mascarados. Não só
mascarados, estão também fantasiados. Segundo: As máscaras são para nos
proteger e as nossas identidades da publicidade negativa. Você sabia que a
maior empresa de televisão desse país pertence a esta corporação? E sabia que
ela investe em outras três empresas de mídia de escopo internacional? Controle
a narrativa que você para deter o poder. Além do mais, quebramos o hall de
entrada porque partimos do princípio de que nesta sociedade dominada pelo
capital, onde as relações passaram por um processo de coisificação os
indivíduos passaram a valorizar mais a propriedade material do que as vidas
individuais. A depredação de patrimônio privado tornasse uma via performática
para chocar e sensibilizar a população para as pautas que devem ser debatidas.
E por último, é engraçado você utilizar o termo vilão. Sabia que inicialmente
este termo caracterizava camponeses que habitavam as vilas em torno dos
castelos na Europa e só adquiriu conotação negativa a partir do século XVI
quando estes camponeses passaram a se organizar com maior frequência para
questionar e militar contra os desmandos da nobreza e dos senhores feudais?
- Interessante. Não sabia desse fato sobre a palavra
vilão... Comenta Majestosa que havia parado de torcer o braço da sua
antagonista, a Professor Marionete.
- É para ser sincero. Faz sentido esta coisa de depredar
para sensibilizar. As pessoas estão realmente cada vez mais voltadas para si
mesmas, mais propensas a utilizarem umas as outras apenas para chegarem aos
seus objetivos... Acrescenta Big Bang que se aproximava da discussão.
- Chama-se processo de coisificação. Ou de
instrumentalização dos relacionamentos se você quiser uma abordagem mais
liberal. Complementa explicativamente o Doutor Garra.
- Será que podemos ter foco aqui? Nós somos combatentes do
crime e não filósofos sociais. Protesta o Vigilante Noturno.
- Mas, você tem que admitir que ele tem um ponto. Protesta
Volt que também já havia deixado seu embate contra o Pirata de Bronze.
- Talvez o que o Vigilante Noturno não consiga enxergar é
que ele é um protetor de uma estrutura social que fomenta a desigualdade e a
violência. Pondera o Doutor Garra. Não consiga enxergar ou talvez queira
proteger por interesses ocultos, já que ele depende de tantas armas num mundo
onde uma das industrias que mais lucram são as industrias armamentistas...
Complementa maliciosamente o Doutor Garra.
A Sociedade dos Altos ideais se volta em atitude perscrutadora
para o Vigilante que é tomado por um sobressalto de medo no mesmo instante.
E assim, mais um manifesto contra a sociedade capitalista
foi realizado com sucesso por causa da crise interna e a necessidade de
reformular ideais e uma proposta ideológica concisa da Sociedade da Justiça.
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