segunda-feira, 5 de maio de 2014

Spider Man 2 - Curtindo a vida adoidado...




Semana passada eu vi o novo filme do Homem Aranha. Bom, para começar devo dizer que este é o meu super heroi de quadrinhos preferido. Porque, guardadas as proporções, ele é o que mais se aproxima de uma pessoa real. Tem problemas financeiros, familiares, de relacionamentos, crises éticas e morais e nem sabe o que DEVE fazer, ou quando sabe nem sempre tem o resultado esperado. Muito eu (risos).
Bem, o segundo filme da franquia dirigida por Mark Web (sim, parece que os produtores escolheram o diretor do filme numa espécie de brincadeira de trolagem), se manteve fiel a proposta do primeiro. Quer dizer, a "paleta de cores" do filme é mais escura, apesar de que neste há mais cenas diurnas que no primeiro. Também manteve um bom trabalho com a execução do 3D do filme, que nas cenas em que o escalador de paredes se balança pela cidade são realmente de prender o folego. Mas, achei que deixou a desejar na trilha sonora, apesar de ter dado um destaque na canção de Phillip Phillips no meio do filme em todo o restante a música passa praticamente despercebida. Sempre penso que filmes perdem muito quando deixam isso acontecer, poís a música, na minha opinião, tem sempre a função de acentuar os momentos e gravar na memória do indivíduo os mesmos... (entenderam porque estou sempre de fones de ouvido? risos)
De critica a direção eu diria apenas que achei a computação gráfica excessiva e muito caricata. Isso fica claro na cena onde o Electro (Jamie Foxx) luta com o Homem Aranha/Peter Parker (Andrew Garfield) na central de eletrecidade. A luta não ficou muito boa, para dizer a verdade ficou um pouco chata. Mas o pior foi o Electro fazendo os pilares de energia (acho que eram isso) acenderem e apagarem no ritmo de uma música. Até o Aranha faz uma piadinha com isso. Qual é? O desejo secreto do Electro era ser DJ? Ficou ruim.
Vou citar o que o site legião dos herois comentou sobre a atuação de Andrew Garfield:
"Andrew Garfield é o Peter Parker/Homem-Aranha definitivo. Durante todo o tempo chega a dar gosto notar como o ator adora o que faz por ser tão fã do personagem, ele é espontâneo em suas falas e seus atos! O jeito que o Aranha se move e solta suas conhecidas piadinhas de forma incessante fazem os olhos brilharem, são as páginas que cresci lendo em forma de filme. Os poderes do herói também foram mais explorados, utilizaram uma técnica envolvendo slow-motion para mostrar como funciona o sentido aranha que ficou sensacional, aliás vale enfatizar aqui que o herói dá uma verdadeira aula de salvamentos durante todo o filme, todas as suas batalhas ele impede que qualquer um se machuque, se preocupando primeiramente com os cidadãos de bem e a segurança de todos; e em tempos onde até o maior escoteiro dos quadrinhos é descuidado com tais coisas, isso conta muito."
Senhoras e senhores, no coments.
Vou dar um desconto a super velocidade e o coração mais desejado pelos cardíacos através do mundo que o Peter desenvolveu para não parecer chato. Não tenho nada a dizer sobre a direção pelo momento, quem quiser falar algo fique a vontade pois me ajudaria a ver outros aspectos do filme. ;)
Bom, só pra cumprir tabela um pequeno resumo do filme:
Em Homem Aranha 2, Peter Parker lida com as consequências do primeiro filme. Odiado por muitos, e protegido por outros tantos o filme mostra o dia a dia agitado do jovem herói que precisa conciliar sua rotina de estudante, adolescente que tem que trabalhar para ajudar financeiramente a tia, namorado e super herói. Como não está fácil para ninguém Peter tem problemas de culpa pela morte do pai da namorada o Capitão Stacey (primeiro filme) a quem havia prometido afastar a namorada, Gwen Stacey (Emma Thopson) [Aranha entendo tua dificuldade, tamo junto!] (risos).
Não bastasse isso, e o cotidiano agitado de defensor de Nova Yorque, Peter convive com o fantasma de ser supostamente deixado para trás (rejeitado) pelos pais e não saber o porque do que acontecera, nem sobre a morte desses pais, nem sobre o porque eles deviam partir deixando-o para trás. Vamos engrossar o caldo ainda mais, volta a cidade devido a morte do pai o antigo melhor amigo de Peter, Harry Osborn (Dane DeHaan), que revela a Peter que está morrendo de uma doença que causa a degeneração celular do seu corpo, como havia feito com o seu pai Norman Osborn (Chris Cooper) e que somente o sangue do Homem Aranha (que misteriosamente ganhou um poder de cura like a Wolverine) pode cura-lo. É a "wolverinização do universo marvel".
Problema pouco é bobagem, então acrescentamos ao caldo o super vilão da vez, Max Dillon (Electro), vivido por Jamie Foxx. Estabanado, carente e esquizofrênico Dillon se torna obcecado pelo cabeça de teia preferido de Nova Yorque, obsessão que se torna em fúria após ganhar os poderes elétricos devido ao acidente ocorrido na empresa de Norma/Harry, a OSCORP.
Por causa disso, Peter, durante o filme, empreende uma demanda para descobrir o passado de seus pais. O que traz revelações tanto para ele quanto para Harry.
Em meio a todos estes problemas Peter tem que lidar com o afastamento de Gwen, primeiro iniciado pelo próprio Peter e depois intensificado pela possibilidade de mudança de cidade da moça. Nesse processo, Peter descobre que Gwen é o peso de que ele precisa para fazer as escolhas certas, como afirma Harry ao conversar com Gwen durante o filme. Não é bunitinho <3. Por essas e outras que muitos tem afirmado que o Peter Parker se tornou um emo e que o filme se concentra demais nesses conflitos sentimentais do casal.
Porém, devo discordar dessas criticas, quem é leitor dos quadrinhos aracnídeos sabe que a vida pessoal de Peter Parker sempre foi o mote principal das histórias, muitas vezes até mais que as batalhas "super heroisticas".
Como vêem, é muita coisa num filme. Muita mesmo. Mas, apesar de alguns momentos ficarem cansativos, o filme é bom. A diversão no 3D é caprichada e o humor continua bem balanceado no filme (se cuida Homem de Ferro). Mas, além desses comentários "estéticos", o que eu achei?

Olha só,
1) Não há acasos;
2) O que deve determinar/legitimar a realidade e o agir prático de cada um são as emoções;
3) A "wolverinização" do Homem Aranha;

Afirmar que não há acasos aqui não equivale a dizer que a história seja teleológicamente determinada por uma força fora da história como Deus ou o destino. Minha afirmação vai mais no sentido de que, segundo o filme, a história é uma coleção de intervenções do homem sobre a realidade. O filme começa com as engrenagens do relógio de Richard Parker e a partir dele são apresentadas as intervenções genéticas que o cientista, pai de Peter, faz na busca de uma cura para Norman Osborn. Estas intervenções é que vão acabar transformando o futuro Peter e a fuga de Richard e Marry Parker é o evento responsável pela transformação da Oscorp no império do mal que o Aranha deve combater. Não está satisfeito com isso? O relógio é o elemento simbólico dessa mensagem no filme. Sabem onde mais ele aparece? Na luta final, entre Peter e Harry.
Com essa luta o diretor indica claramente que os eventos ocorridos na torre do relógio são consequência direta da escolha de Peter em descumprir a promessa feita ao Capitão Stacey. E a consciência disso é o que paralisa o Aranha após a batalha. A premissa do filme, então, é: a história é o resultado das escolhas concretas que você faz.

Isso se torna problemático a partir da mudança na personalidade/comportamento do personagem. Peter sempre foi um adolescente introvertido nerd style. Nas histórias em quadrinhos e na primeira trilogia isso funcionava bem porque o personagem ao se tornar um heroi adotou um estilo ponderativo staurológico (que assume a cruz e vai pro sacrifício). Nessa nova franquia, no entanto, e especificamente nesse segundo filme. Peter faz as vezes do adolescente descolado. Claro, ele tem preocupações e responsabilidades, isso aparece quando ele se nega a doar sangue. Mas o crivo utilizado para tomar suas decepções são suas emoções. Note a dificuldade que ele tem em deixar Gwen partir. A reação abrupta com relação a Tia May quando essa pede que ele esqueça o passado dos pais. E a obsessão que isto se torna para Peter.
Peter é determinado por suas emoções, a mensagem é a de que a vida se define pela fruição irrestrita de nossas sensações. Ou dito de outra forma eu poderia afirmar que a afirmação da ameaça de Electro é que o homem só realiza a sua existência quando se "liberta" das amarras morais que o reprimem. Algo no sentido freudiano ou nietzschiano.
O discurso de Gwen parece reforçar essa compreensão. A vida é curta demais para não fazermos aquilo que sonhamos, para darmos um sentindo para as nossas vidas. É o discurso que traz o Aranha de volta a ativa.

Penso que este seja o filme mais afinado com a cultura contemporânea, nos seus sentidos mais imediatistas e de afirmação da "presentificação da esperança", quer dizer, da afirmação que o que podemos esperar de bom para a vida está na vida. O que Tia May afirma, ao final, sobre precisar seguir em frente mesmo diante do sofrimento que é isto não significa muito mais que a necessidade de estratégias de enfrentamento do sofrimento (coping).
Esse ultimo comentário não é propriamente meu, ouvi de um pastor da igreja que frequentei há um tempo atrás. Ele falava que esta  capacidade de se curar rapidamente, própria do Wolverine, agora transferida para o Aranha, é simbólica de nossa sociedade que anseia a manter a juventude e que se tornou incapaz de lidar com a permanência do sofrimento. Não vou continuar isso aqui, deixo para vocês pensarem.
No final, o Aranha termina submerso aos mesmos problemas que havia iniciado. O que é um indicador que as observações acima não estão muito longes da mensagem do filme. Porque uma vez em que se cria uma estratégia para enfrentamento do sofrimento o indivíduo pode voltar a rotina antiga mesmo que esta não tenha se alterado fundamentalmente. Proposta intrínseca a estratégias de enfrentamento do sofrimento que propõem mudança do indivíduo sem alteração das condições sociais em que ele está inserido, sejam elas religiosas ou seculares.
Citando Heidegger, "o homem é o lugar onde o ser se manifesta", penso que o filme transmite especificamente isso a "experiência fática da vida como ponto de partida" para o pensamento e para o viver.

p.s.: a utilização dos termos da psicologia foi para provocar os psicólogos, eae pessoal, a despeito da utilização ortodoxa dos conceitos, o que diriam da analise e da capacidade de resiliência do homem moderno, representado pelo Parker?

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