sábado, 25 de janeiro de 2020

Estudos Anticoloniais, Pós-Coloniais, Decoloniais, Subalternos e Epistemologias do Sul

Recebi esta lista no whatsapp, enviada por uma amiga. Reposto o texto na integra para quem interessar começar a se aprofundar no tema.






Post de @Suli Cabano, pesquisador vinculado à RPPDA:

Boa noite galera, fiz uma lista com algumas (não são as únicas) referências sobre Estudos Anticoloniais, Pós-Coloniais, Decoloniais, Subalternos e Epistemologias do Sul etc. Baseada em estudos pessoais e ementas de algumas disciplinas de programas de pós-graduação de diferentes universidades do país.

Textos de Introdução:

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít. 2013.

ESCOBAR, Arturo. Mundos y conocimientos de otro modo: El programa de investigación de Modernidad/colonialidad latinoamericano. In: Tabula Rasa, 2003.

MIGLIEVICH-RIBEIRO, Adélia. Por uma razão decolonial. Desafio ético-político-epistemológicos à cosmovisão moderna. Dossiê: Diálogos do Sul. Civitas, Porto Alegre, 2014.

COSTA, Sérgio. Desprovincializando a sociologia. A contribuição pós-colonial. RBCS, 2006.

APPIAH, Kwame Anthony. Será o Pós em Pós-Modernismo o Pós em Pós-Colonial?   
                                                                                                                                                                                                                       
HALL, Stuart. Quando foi o Pós-colonial? Pensando no limite. in Da diáspora: Identidades e mediações culturais, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

Textos Anticoloniais, os Precursores do pós-colonialismo:

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o Colonialismo. Lisboa. 1978.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador, Edufba, 2008.

FANON, Frantz. Racismo e Cultura. In: Em Defesa da Revolução Africana. 1980.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. 2ª ed. Pref. Jean-Paul Sartre. Trad. José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

MEMMI, Albert. Retrato do Colonizado Precedido de Retrato do Colonizador, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2007.

GILROY, Paul. Entre campos: nações, culturas e o fascínio da raça. São Paulo: Annablume, 2007.

GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid Kinipel Moreira. São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes; Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.

GLISSANT, Edouard. Espaço fechado, palavra aberta. Estudos Avançados, vol. 03, nº 07, 1989.

GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade. Tradução de Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.

JAMES, Cyril Lionel Robert. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos. Trad. Afonso Teixeira Filho. 1ª ed. rev. São Paulo: Boitempo, 2010.

DU BOIS, William Edward Burghardt. As almas da gente negra. Trad. e intr. Heloisa Toller Gomes. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999.

Estudos Culturais e Subalternos:

BHABHA, Homi. O Local da Cultura, Belo Horizonte, Editora UFMG. 2005.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o Subalterno Falar?, Belo Horizonte, Editora UFMG. 2010.

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia da Letras, 1995.

GUHA, Rahahit. Las Vozes de la Historia y Otros Estudios Subalternos. Editado por Josef Fontana. Barcelona: Crítica, 2002.

HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasília, 2003.

DAS, Veena. O ato de testemunhar: violência, gênero e subjetividade. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 37, p. 9-41, abr. 2016.

DAS, Veena. POOLE. Deborah. El estado y sus márgenes: etnografías comparadas. Revista Académica de Relaciones Internacionales, Madri, n. 8, jun. 2008.

Estudos Decoloniais ALeC:

CASTRO-GÓMEZ, Santiago e GROSFOGUEL Ramón. El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global.. Bogotá: Iesco-Pensar-Siglo del Hombre Editores, 2007.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. La hybris del punto cero : ciência, raza e ilustración en la Nueva Granada (1750-1816) . Bogotá: Editorial Pontifícia Universidad Javeriana, 2005.

DUSSEL, Enrique. 1492: El encobrimento do outro. La Paz-Bolívia: Biblioteca Indígena, 2008.

DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação na idade da globalização e da exclusão. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (Org.). A Colonialidade do Saber: Eurocentrismo e Ciências Sociais perspectivas latino-americanas.  Colección Sur-Sur. Ciudad Autonoma de Buenos Aires, Argentina: CLACSO, 2005.

GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro Educador - Saberes Construidos nas Lutas por Emancipação. Vozes, 2017.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de Amefricanidade. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988.

LANDER, Edgardo (Org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO, 2005.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 320, setembro-dezembro/2014.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Transdisciplinaridade e decolonialidade. Revista Sociedade e Estado, v. 31, nº 1, janeiro/abril 2016.

MIGNOLO, Histórias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade. In: LANDER, Edgardo (Org.) A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO, 2005. 

MOTA NETO, João Colares da. Por uma Pedagogia decolonial na América Latina: reflexões sobre o pensamento de Paulo Freire e Orlando Fals Borda. CRV: Curitiba, 2016.

PICHARDO, Ochy Curiel (2014), “Construyendo metodologias feministas desde el feminismo decolonial” in Otras formas de (re)conocer, Reflexiones, herramientas y aplicaciones desde la investigaciín feministas, Bilbao, pp. 45-60

RESTREPO, Eduardo; ROJAS, Axel. Inflexión decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Colombia - Popayãn: Universidad del Cuenca, 2010.

RIVERA Cusicanqui, Silvia. Ch’ixinakax utxiwa. Una reflexión sobre prácticas y discursos descolonizadores. Buenos Aires: Tinta Limón, 2010.

WALSH, Catherine. ¿Son posibles unas ciencias sociales/culturales otras? Reflexiones en torno a las epistemologías decoloniales. IN Nomadas. 2 WALSH, Catherine. Interculturalidad, estado, sociedad. Luchas (de)coloniales de nuestra época. Quito: UASB-Abya-Yala, 2009a.                 
                                                                                                          SEGATO, Rita. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. in E-Cadernos CES, nº 18, Epistemologias feministas: ao encontro da crítica radical, Coimbra, UC, 2012.

Pós-Colonialismo Árabe:

MAHMOOD, Saba. 2006. Teoria feminista, agência e sujeito liberatório: algumas reflexões sobre o revivalismo islâmico no Egipto. Etnográfica.

 SILVA, Maria Cardeira da. As mulheres, os outros e as mulheres dos outros: feminismo, academia e Islão. Cad. Pagu [online]. 2008.

ABU-LUGHOD, Lila. As mulheres mulçumanas precisam realmente de salvação? Reflexões antropológicas sobre relativismo cultural e seus Outros. Revista de Estudos Feministas.

Colonialismo português e a Pós-Colonialidade:

SANTOS, Boaventura de. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa. MENESES, Maria Paula (Org.) Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.

Pós-Colonialismo Africano:

ADICHIE, Chimamanda.  Perigo da História Única.

APPIAH, Kwame. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

COMITINI, Carlos (Org.). Amílcar Cabral: a arma da teoria. Rio de Janeiro: Codecri, 1980; CABRAL, Amílcar. Unidade e luta. In: Alguns princípios do partido. Lisboa: Seara Nova, 1974.

DIOP, Cheikh Anta. A unidade cultural da África negra: esferas do patriarcado e do matriarcado na Antiguidade clássica. Luanda/Ramada: Edições Mulemba/Edições Pedago, 2012.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MUDIMBE, Valentin-Yves. A invenção de África: gnose, filosofia e a ordem do conhecimento. Luanda/Mangualde (Portugal): Edições Mulemba/Edições Pedago, 2013.

NKRUMAH, Kwame. Neocolonialismo: último estágio do imperialismo. Trad. Maurício C. Pedreira. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1967.

THIONG’O, NgugiWa. Descolonizar la mente, La política lingüística de la literatura africana, 2015. VOZ d’Angola clamando no deserto: offerecida aos amigos da verdade pelos naturaes. Luanda: Typographya Lisboa, 1901.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

CAED - JUS. Metodologia de Pesquisa Empírica em Direito

Divulgando.

A CAED-JUS oferece um mini curso EaD de:

Como fazer projeto de pesquisa no direito

e

Como fazer pesquisa empírica no direito

É um bom material para os estudantes que ainda não tem prática de pesquisa e estão em processo de TCC ou em Projeto de Iniciação Cientifica. Deixo os links direcionando para estes cursos em específico.

O Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus) é iniciativa de uma rede de acadêmicos internacionais para o desenvolvimento de pesquisas jurídicas e reflexões de alta qualidade.
Os eventos ocorrem de maneira online, sendo a tecnologia parte importante para a excelência das discussões e para a interação entre os participantes através de diversos recursos multimídia.

Clique aqui para acessar o curso de Como Fazer Projeto de Pesquisa no Direito

Clique aqui para acessar o curso de Como Fazer Pesquisa Empírica no Direito.


Aproveite. Se esforce.



domingo, 22 de dezembro de 2019

INDICAÇÕES DE LEITURAS PARA TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO


Olá;

Há algum tempo ao conversar com alunos e, sobretudo, orientandos percebi a necessidade de indicar textos dentro de minha área de pesquisa para possíveis pesquisadores ou acadêmicos em processo de escrita do Trabalho de Conclusão de Curso.
Só para esclarecer, minha área de pesquisa hoje é: Direitos Humanos, Movimentos Sociais, Democracia e Religiões. Tenho orientado também pesquisas sobre esse grande tema. Portanto, deixarei algumas dicas de leituras aqui. Os livros e artigos que vou indicar estão disponíveis na internet, facilmente acessíveis pelo google, mas a despeito disso os hospedarei no meu drive para quem quiser baixar de forma mais imediata.

Leituras Obrigatórias (significa que dentro da sua área de interesse deve ler alguns dos trabalhos aqui dispostos):

PREPARAÇÃO E METODOLOGIA:


00 Preparo para a redação do artigo científico (clique aqui para baixar)
01 Estrutura do artigo científico (clique aqui para baixar)
02 O resumo de um artigo científico (clique aqui para baixar)
03 A introdução de um artigo científico (clique aqui para baixar)
04 A seção de método de um artigo científico (clique aqui para baixar)
05 PROCESSOS JUDICIAIS COMO FONTE DE DADOS (clique aqui para baixar)
06 A seção de discussão de um artigo científico (clique aqui para baixar)
07 A seção de resultados de um artigo científico (clique aqui para baixar)




DIREITOS HUMANOS:

Declaração Universal dos Direitos Humanos; (clique aqui para baixar)

O que são Direitos Humanos; (clique aqui para baixar)

A Invenção dos Direitos Humanos; (clique aqui para baixar)

Gênese, evolução e universalidade dos Direitos Humanos frente à diversidade cultural; (clique aqui para baixar)

Narrativas da origem histórica dos Direitos Humanos nos manuais de direito; (clique aqui para baixar)

A constitucionalização dos direitos sociais no Brasil; (clique aqui para baixar)



DEMOCRACIA:

Democracia - Velhas e novas controvérsias; (clique aqui para baixar)

O que é Democracia - Uma visão exploratória na ciência política; (clique aqui para baixar)

Os Direitos Fundamentais e o Conceito de Democracia; (clique aqui para baixar)



NEOLIBERALISMO:


O Neoliberalismo - David Harvey;  (clique aqui para baixar)

Uma visão do Neoliberalismo; (clique aqui para baixar)

Neoliberalismo - Neo-imperialismo; (clique aqui para baixar)

A Nova Razão do Mundo - Pierre Dardot & Christian Laval; (clique aqui para baixar)

American Nightmare - Wendy Brown; (clique aqui para baixar)

Moralismo como Anti-Política - Wendy Brown; (clique aqui para baixar)

Contra os Direitos Humanos - Zyzek; (clique aqui para baixar)

On the Coloniality of Human Rights - Nelson Maldonado; (clique aqui para baixar)



COLEÇÃO PRIMEIROS PASSOS:

O que é Direito? (clique aqui para baixar)

O que é Cidadania? (clique aqui para baixar)

O que é Capitalismo? (clique aqui para baixar)

O que é Feminismo? (clique aqui para baixar)

O que é religião? (clique aqui para baixar)


Sob o tema de RELIGIOSIDADES podemos tratar aspectos dos DIREITOS HUMANOS, POLÍTICA E DEMOCRACIA. Abaixo algumas sugestões divididas por religiões:


OBRIGATÓRIAS DA ÁREA:

ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO - Max Weber (clique aqui para baixar)

IDEOLOGIA ALEMÃ - Karl Marx (clique aqui para baixar)

ECONOMIA DAS TROCAS SIMBÓLICAS - Pierre Bourdieu (clique aqui para baixar)

E SE DEUS FOSSE ATIVISTA DE DIREITOS HUMANOS - Boaventura de Sousa Santos (NÃO DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD)


DIREITO E RELIGIÃO

A influência das representações religiosas no processo de aprendizagem do sujeito  (clique aqui para baixar)
A INTOLERÂNCIA CONTRA RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS À LUZ DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DE 1948 (clique aqui para baixar)
A LIBERDADE RELIGIOSA COMO DIREITO FUNDAMENTAL E A LAICIZAÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (clique aqui para baixar)
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E VIOLÊNCIA, FRENTE ÀS PRÁTICAS RELIGIOSAS NO BRASIL DO SÉCULO XXI (clique aqui para baixar)
Laicidade e liberdade Religiosa no Brasil (clique aqui para baixar)
Laico, mas nem tanto - cinco tópicos sobre liberdade religiosa e laicidade estatal na jurisdição constitucional brasileira (clique aqui para baixar)
Ordem jurídica, religião, direitos civis e a constituição do Império do Brasil (clique aqui para baixar)
SCHMITT, Carl. Teologia Política (clique aqui para baixar)


CATOLICISMO

CATOLICISMO - A Igreja Católica e seu papel político no Brasil (clique aqui para baixar)
CATOLICISMO - Catolicismo brasileiro - um painel da literatura contemporânea (clique aqui para baixar)
CATOLICISMO - MODERNIDADE NO BRASIL, IGREJA CATÓLICA, IDENTIDADE NACIONAL (clique aqui para baixar)
CATOLICISMO - Um olhar sobre o catolicismo brasileiro (clique aqui para baixar)
CATOLICISMO - VISÕES DA RELIGIOSIDADE CATÓLICA NO BRASIL COLONIAL (clique aqui para baixar)


PROTESTANTISMO

PROTESTANTES, PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS- Nem anjos nem demônios (clique aqui para baixar)

PROTESTANTES, PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS - O PROTESTANTISMO HISTÓRICO E A PENTECOSTALIZAÇÃO DA FÉ  HISTÓRICO E A PENTECOSTALIZAÇÃO DA IGREJA (clique aqui para baixar)
 PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS -  Os pentecostais - entre a fé e a política (clique aqui para baixar)
PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS - Os Falsos profetas da Frente Parlamentar (clique aqui para baixar)
NEOPENTECOSTALISMO -  Neopentecostalismo um conceito obstaculo (clique aqui para baixar)
NEOPENTECOSTALISMO -  Pluralismo Religioso e Secularização (clique aqui para baixar)
NEOPENTECOSTALISMO -  pós pentecostalismo (clique aqui para baixar)
NEOPENTECOSTALISMO -  Protestantismo tupiniquim modernidade (clique aqui para baixar)

ESPIRITISMO

ESPIRITISMO - A filosofia espirita; direito natural (clique aqui para baixar)
ESPIRITISMO - A institucionalização do espiritismo como religião (clique aqui para baixar)
ESPIRITISMO - Religião, ciência ou auto-ajuda; trajetos do Espiritismo no Brasil (clique aqui para baixar)

RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS

UMBANDA - A UMBANDA; DE ROGER BASTIDE À CONTEMPORANEIDADE (clique aqui para baixar)
UMBANDA - Modernidade com feitiçaria; candomblé e umbanda no brasil do século XX (clique aqui para baixar)
UMBANDA - O Brasil com axé - candomblé e umbanda no mercado religioso (clique aqui para baixar)
UMBANDA - Oogun Asé; estratégias de cuidado com a saúde no Candomblé em Nova Iorque (clique aqui para baixar)
UMBANDA - Umbanda e quimbanda; alternativa negra à moral branca (clique aqui para baixar)
UMBANDA - UMBANDA, UMA RELIGIÃO SINCRÉTICA E BRASILEIRA (clique aqui para baixar)
UMBANDA - Umbanda; Preconceitos e similaridades (clique aqui para baixar)


CANDOMBLÉ - CANDOMBLÉ E DIREITO; (clique aqui para baixar)
CANDOMBLÉ - Direito à memória das comunidades tradicionais; (clique aqui para baixar)
CANDOMBLÉ - INTOLERÂNCIA CONTRA AFRO-RELIGIOSOS; (clique aqui para baixar)
CANDOMBLÉ- O poder dos Candomblés; (clique aqui para baixar)



MOVIMENTOS SOCIAIS

RACISMO E MOVIMENTO NEGRO

A ORIGEM DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL ATÉ A CONTEMPORANEIDADE (clique aqui para baixar)

 A universalização dos direitos e a promoção da equidade - o caso da saúde da população negra (clique aqui para baixar)

AÇÕES AFIRMATIVAS E O DEBATE SOBRE RACISMO NO BRASIL (clique aqui para baixar)

Caminhos, pegadas e memórias - uma história social do movimento negro no brasil (clique aqui para baixar)

Direitos humanos e a pratica de racismo (clique aqui para baixar)

O conceito de racismo institucional - aplicações no campo da saúde (clique aqui para baixar)

OS NOVOS NOMES DO RACISMO - ESPECIFICAÇÃO OU INFLAÇÃO CONCEPTUAL (clique aqui para baixar)

Preconceito de cor e racismo no Brasil (clique aqui para baixar)

Violência e racismo - novas faces de uma afinidade reiterada (clique aqui para baixar)

RACISMO NO BRASIL - TENTATIVAS DE DISFARCE (clique aqui para baixar)


GÊNERO, FEMINISMO E DIREITOS HUMANOS

Construção de diretrizes para orientar ações institucionais em casos de violência de gênero na universidade (clique aqui para baixar)

Gênero, direito e relações internacionais - debates de um campo em construção (clique aqui para baixar)

Gênero e feminismo no Brasil - uma análise da Revista Estudos Feministas (clique aqui para baixar)

O feminismo brasileiro desde os O feminismo brasileiro desde os anos 1970 (clique aqui para baixar)

Direitos sexuais e reprodutivos de mulheres em situação de violência sexual (clique aqui para baixar)

AS TRAJETÓRIAS E LUTAS DO MOVIMENTO FEMINISTA NO BRASIL (clique aqui para baixar)

Dilemas e perspectivas dos feminismos no Brasil contemporâneo (clique aqui para baixar)

Feminismo e contexto - lições do caso brasileiro (clique aqui para baixar)

Feminismo, história e poder (clique aqui para baixar)

Feminismos e Gênero em tempos de mal-estar (clique aqui para baixar)

Homens e o Movimento Feminista no Brasil (clique aqui para baixar)

O feminismo no Brasil - suas múltiplas faces (clique aqui para baixar)

O movimento feminista brasileiro na virada do século XX (clique aqui para baixar)

Os direitos de pessoas LGBT na ONU (clique aqui para baixar)

A história do trabalho das mulheres no Brasil - perspectiva feminista (clique aqui para baixar)

Multiculturalidade, interculturalidade, direitos humanos e violência de gênero (clique aqui para baixar)

Quando o gênero bate à porta do STF - a busca por um constitucionalismo feminista (clique aqui para baixar)









RESSALTA-SE QUE OS ARTIGOS AQUI DISPONIBILIZADOS FORAM ENCONTRADOS NAS PLATAFORMAS SCIELO E NA BASE DE DADOS DO COMPEDI. PARA AMPLIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS TEMAS INDICAMOS A BUSCA NESTES SITES.

Em breve adicionarei mais indicações de leituras que considero obrigatórias nessas áreas. Também em breve adicionarei em outro post leituras na área de religiosidade e direitos fundamentais.

abraços e boa leitura.








sexta-feira, 1 de junho de 2018

Iktsuarpok



Iktsuarpok. Essa é a palavra em inuit que expressa o sentimento de expectativa de uma pessoa quando espera alguém e vai muitas vezes à porta para ver se a pessoa já chegou.
            Juliana vivia à espera. À espera do amor que nunca chegou, do reconhecimento que tanto desejava. Para ela amor passava por aí, reconhecimento social. Não que ela pensasse assim literalmente. Na verdade era o contrário. Acreditava fortemente de que quando “encontrasse o amor” se sentiria completa e feliz e dispensaria finalmente a necessidade de reconhecimento dos outros.
            Não que Juliana fosse uma inuíte. Pelo contrário, ela era uma inteligente psicomodeladora residente nos campos do Novo Canadá, ao sul do polo norte. Passou a vida estudando.
            Seus pais deram a melhor educação que podiam para ela. Eles tinham a forte convicção de que a filha teria que ter um bom futuro profissional, afinal, não a achavam tão interessante quanto as amiguinhas que ela tinha.
            Juliana era gordinha quando criança e apesar de muito doce e inteligente era tímida e não conseguia muita atenção. O contrário de sua irmã mais nova, Janaina. Janaina era mais nova que Juliana. Era uma menina espevitada e curiosa. Gostava de falar e fazer brincadeiras. Todos se encantavam pela doçura de Juliana, mas era para Janaina que acabavam olhando com atenção e interesse.
            Foi por isso que Juliana se refugiou no seu mundo romântico a espera do seu príncipe encantado. Com o tempo, se dedicou aos estudos. Em sua lógica pensava: se me destacar como uma pessoa inteligente, capaz de dizer coisas interessantes e se conseguir uma boa colocação como profissional, quem sabe assim alguém me ame. Quem sabe alguém me ache especial.
            Ela conseguiu se tornar uma profissional de destaque e até conseguiu alguns amigos que a admiravam e gostavam dela. Mas o tempo na faculdade deu a ela provas de que não são essas as características que o príncipe encantado procura.
            Enquanto Janaina prosseguia recebendo toda a atenção dos pais com o seu jeito contundente, um desenvolvimento controverso do comportamento espevitado que a menina engraçada mostrou no passado, Juliana se via sendo cada vez deixada mais de lado ainda.
As duas irmãs se amavam, o que tornava mais dura pra ambas o ódio que secretamente acabaram nutrindo uma pela outra devido à competição velada que travavam.
            Certa vez durante a faculdade se apaixonou por um colega. Por meses tentou despertar a atenção dele e até mesmo foi ousada puxando conversa após uma aula com o fulano. Mas tudo o que ela conseguiu foi que o colega desse um sorriso e pedisse que ela o ajudasse com os deveres da disciplina. Uma semana depois ela descobriu que ele estava ficando com uma aluna de outra turma. Tudo o que ela tinha planejado com ele desmoronava como um castelo de cartas soprado pelo vento.
            Juliana se sentia feia. Sentia o medo de jamais ser amada por ninguém. As atenções que Janaina recebia da família sem mostrar o respeito ou o desempenho que ela demonstrava incomodavam-na profundamente. Parecia-lhe injusto que alguém que não era bonito, nem que demonstrava uma grande aptidão intelectual fosse tão bem recompensada, enquanto ela, dedicada, esmerada, gentil e bondosa fosse condenada ao ostracismo. Janaina, sentia-se insegura diante do progresso da irmã. Para Janaina, o sucesso de Juliana era a confirmação de seu eterno segundo lugar. Sua agressividade se tornou a arma contra o medo de ser deixada de lado, abandonada que crescia em seu peito cada vez que abria os olhos ao acordar. Na mente de Janaina, as qualidades de boa moça de sua irmã Juliana eram simplesmente insuperáveis.
            As noites, Juliana, sozinha ela remoía estes pensamentos em sua cabeça. De noite, Janaina, embalada pela soma (droga criada em 3025 para produzir relaxamento muscular e entorpecimento mental) tinha pesadelos com o sucesso da irmã e do próprio  fracasso diante de seus pais.
            E assim, sem perceberem os dias passavam, e os sentimentos, e as percepções se cristalizavam em comportamentos de competitividade e autonegação. E cada vez que Juliana encontrava uma pessoa ou um ambiente novo acontecia em seu interior iktsuarpok. O sentimento de expectativa incontrolável lhe dominava. Poderia ser ali que ela encontraria alguém que dessa a ela o afeto que ela sabia ter direito de receber.
            Este sentimento era acompanhado pelas idealizações de reconhecimento social que Juliana apreendeu dos filmes românticos que viu solitariamente no decorrer da sua curta vida. Juliana progressivamente aprendeu a procurar fora dela mesma o reconhecimento interior de que carecia.
            Gradualmente, no entanto, a menina doce e gentil cedeu lugar a uma mulher rancorosa. As subsequentes frustrações fizeram com que Juliana criasse uma crença em seu intimo. A crença de que você precisa ser bonito para ser recompensado.
            Ela passou a acreditar que a gratificação equivalia ao sentimento amoroso e por isso ela trabalhou duramente para modificar o seu corpo. Juliana não queria mais esperar à porta a chegada de um príncipe. Agora ela desejava fazer com que as pessoas ao seu redor se curvassem à sua presença. Ela não iria mais esperar para ser escolhida como digna de ser amada por alguém, o que ela queria agora era dizer a todos quais eram dignos de sua atenção e quem não era.
A garota olhou ao seu redor e viu que isso de fato não era errado. Na verdade, suas amigas, que saiam e se divertiam faziam exatamente isso. Mais que isso, Juliana percebeu, que era o que Janaina fazia.
Janaina do amor livre e da vida dupla. Saia todas as noites dizendo para os pais que ia ao centro de contemplação, mas no final ia mesmo era para os centros recreativos e mesmo sendo feia e sem nenhum atributo intelectual destacável além daquele senso de humor agressivo, conseguia tudo o que queria.
Em seu interior Juliana pensava: Janaina sim é que é feliz. Pensava isso mesmo quando se queixava do comportamento de Janaina para os amigos.
            Foi então, que por meio de muito trabalho duro Juliana conseguiu o que queria. Ela mudou física e psicologicamente. Sua transformação foi tamanha que era impossível que qualquer homem ou mulher que a olhavam não se sentissem encantados pela sua beleza.
            Até mesmo os seus pais passaram a trata-la de modo diferente. Da filha secundária passou a primazia. Era uma brilhante cientistae ainda por cima bonita. Um verdadeiro orgulho para a família. Janaina finalmente fora superada, e não havia nada que pudesse fazer que contestasse o sucesso de Juliana.
A depressão de Janaina ao perceber a progressiva mudança de Juliana alcançou níveis extremos e a garota agressiva passou a se refugiar nos salões de realidade criada. Lugares onde o indivíduo podia projetar uma realidade virtual e embalado por soma ou outra droga passar horas. Um refúgio, uma fuga.
            Juliana passou a sair todas as noites. Conseguiu os namorados e os amigos que sempre desejou. Ficou conhecida pelas amigas como A PREDADORA. Desenvolveu um senso de humor apurado, acido, que atraia e intimidava todos ao seu redor. E ela passou a gostar muito desse tipo de atenção. Finalmente, ela sabia como era ser Janaina.
Mas curiosamente todas as noites quando saia sentia iktuarpok, o sentimento de expectativa da espera da chegada de alguém especial... Sentimento fortemente reforçado pela sensação de que todo aquele prestigio que havia conquistado rapidamente se esvairia.
            Por isso Juliana todas as noites “ia até a porta” e esperava alguém que ainda não tinha chegado.
Juliana, ao se "tornar" Janaina finalmente compreendeu o que a irmã sentia e percebeu que no processo a pessoa que ela tanto queria encontrar tinha se perdido. Percebeu que deveria ter se encontrado primeiro e que por mais que estivesse à espera na porta, não estava em atenção diligente o suficiente para ver que defronte à porta sempre houve um espelho para se mirar...

quinta-feira, 16 de julho de 2015

DIVERTIDA MENTE - INSIDE OUT




Quem está no comando da sua cabeça?
A pergunta aparentemente absurda é a premissa do filme Inside Out, Divertida Mente. E é justamente a mesma questão que nos fizemos ao sairmos do cinema ontem onde junto com meu casal de amigos, Fernando e Kamilla, vimos Insid Out, ou na tradução brasileira: DIVERTIDA MENTE.

 Antes de começar Vale então avisar: O TEXTO QUE SEGUE CONTEM SPOILERS.

Inside out conta história de uma parte da vida de Hayle. Uma garotinha de 11 anos de idade do Minesota. Hayle se vê em uma grande transformação quando sua família se muda para São Francisco para acompanhar o novo emprego do pai. A tarefa de adaptação ao novo contexto de vida não é fácil. Mas, como uma boa filha Hayle quer apoiar os seus pais. E camufla seus reais sentimentos sobre o novo contexto de vida. Este é o contexto para Inside Out. O filme, no entanto, focaliza toda a sua ação no "interior" de Hayle.
Especificamente nas emoções da menina enquanto passa por esta fase penosa. Para isso, o filme parte do nascimento da menina e apresenta a gênese de suas emoções básicas: a Alegria, a Tristeza, o Medo, a/o Raiva e a/o Nojo.
O filme é muito didático ao apresentar a gênese das emoções e seu papel no desenvolvimento da personalidade. Segundo o filme as emoções nascem das experiências de vida concretas pelo qual o indivíduo passa. Dessas experiências também surgem as memórias. A carga emocional de uma determinada memória pode defini-la como temporária ou permanente. É muito legal a brincadeira do filme em que as memórias de um dia ficam armazenadas na central junto com as emoções sendo arquivadas somente de noite. Quer dizer, memórias e emoções de um dia ficam guardadas no sistema limbico sendo enviadas para o cortex somente quando dormimos.
Memórias permanentes com maior carga emocional são o que o filme chama de memórias base, isto é, memórias que dão origem às ilhas ou cidades de sentimento. Hayle possuia cinco ilhas/cidades. A cidade da bobeira, cidade do hokey, cidade da amizade e a cidade da família. Veja, estas cidades na verdade são os referênciais valorativos que auxiliam o indivíduo a tomar decisões. Elas nascem de experiências importantes, experiências cujas memórias possuem fortes conotações emocionais.
O desenvolvimento das cidades de emoções, no entanto, não depende somente da carga emocional de uma determinada experiência, ela depende também da interiorização de conceitos e valores culturais bem como do reconhecimento da existência de outros exteriores e diferentes do "Eu". As cidades da amizade e da honestidade de Hayle apresentam esta afirmação. A cidade ou ilha da família é a primeira e mais importante a se formar porque para a criança a família é o centro dos acontecimentos do universo. É a partir das experiências familiares que serão formadas as demais cidades. A ilha cidade da bobeira se forma das brincadeiras com o pai, a ilha da honestidade da admissão/reconhecimento da infração ocorrida em casa, a cidade do hokey é formada em consonância com o gosto dos pais pelo esporte. Mesmo a cidade da amizade que admite o mundo social e uma progressiva mudança e distanciamento da família ocorre próximo ao lar, no quintal, na porta de casa, nosnjogos de hokey onde a familia também está presente. Estes referenciais são importantes para a formação da personalidade e para o desenvolvimento da confiança da criança.
O filme então gira em torno deste eixo.
Giddens afirma que a confiança é o senso de estabilidade de que precisamos para dar continuidade a vida. É o véu que encobre a realidade de que não estamos no controle de todos os processos sociais. Quando confiamos conseguimos nos sentir seguros e tomarmos decisões e atuarmos socialmente sem um alto nivel de ansiedade existencial. Winnicott afirma que este senso de segurança que nomeamos de confiança é desenvolvido na infância, na relação que desenvolvemos com nossos pais. Pais presentes e participativos tenderiam a contribuir no desenvolvimento de Indivíduos com menor ansiedade existencial e que tendem a enxergar os erros de uma forma mais positiva.
Talvez seja por isso que Hayle começa a ver desmoronar suas ilhas de sentimento uma a uma. A mudança de cidade não retirou da menina apenas os elementos rotineiros que tornavam sua vida previsível, leia-se que lhe ajudavam a se sentir segura. Mas também trouxe a ausentificação do pai, instabilidade familiar e ausencia de amigos. Os elementos referenciais que a tinham acompanhado até então ficaram mais pálidos nessa nova rotina.
O desenho apresenta esta nova experiência na forma de uma inadequação, a menina não se sente nem alegre nem triste (a alegria e a tristeza saem da sala de controle e vão parar nas memórias de longo prazo (no cortex, aliás as prateleitars onde estas memórias são guardadas emulam perfeitamente a forma do cortex cerebral). Sem saber como se sente Hayle, e todos nós, é facilmente tomada pela raiva, medo ou nojo.
Emoções que já ganhavam força e destaque desde que partiram de Minesota. A raiva e o medo são os comportamentos mais comuns em uma situação de ansiedade existencial e tomam conta com frequência do painel de controle de Hayle na ausência da alegria e da tristeza.
Ao ver ruir cada um dos seus referenciais valorativos, as cidades de sentimentos, a/o raiva cede a resposta mais fácil e bem acabada. A crença/pensamento de que a felicidade está no passado e que para voltar a ser feliz deve voltar a Minesota onde fora feliz um dia. (lógico que estou saltando muita coisa, mas não dá para falar de tudo de uma vez). O pensamento formado pela raiva e destituído dos referênciais valorativos guardados pelas ilhas de sentimentos torna-se facilmente uma ideia obssessiva, que ninguém consegue tirar da mesa/cabeça.
Tendo a pensar que isto se tornou possível também porque até aquele momento Hayle, como toda criança, tinha sido governada somente pela alegria. Para ela não houve um treinamento de como se comportar de forma adequada quando a raiva, o medo, a tristeza ou o nojo estão no comando. A Alegria de Hayle, quem sabe em todos nós era uma soberana egoísta.
A falta desse treinamento em ser comandada por outras emoções causou a instabilidade que levou Hayle a produzir uma outra realidade emocional, esta sim grave e ameaçadora, o sentimento ou sensação de indiferença que surge em Hayle após perder todos os seus referenciais valorativos, cidades de emoções. A resolução desse conflito então se dá através da integração de todos sentimentos. A alegria aprende o valor da tristeza, e das demais emoções, e passa a permitir que todos passem a gerir o comprtamento.
O painel de controle se torna maior e mais complexo. Esferas de emoções se tornam hibridas deixande de ter apenas uma cor só. E mesmo as cores nas esferas de memórias passam a ser mais palidas indicando uma forma balanceada nas emoções dos indivíduos.
Enfim, acho que deu para perceber o quanto fiquei entusiasmado com o filme.
Daria para dizer muito mais sobre ele, e futuramente o farei, mas por hora queria salientar estes aspectos, que estão um tanto obvios no filme. Acho que é um filme que pretende destacar a importancia de desenvolvermos referenciais valorativos que nos auxiliem a superar adversidades e crises do cotidiano, bem como chama a atenção para a necessidade de integrar as emoções no gerenciamento do comportamento sem que haja um maniqueísmo nisto. Observo que hoje em dia, ou será que sempre foi assim?, temos uma tendência, por exemplo, de considerar a raiva e a tristeza de uma forma negativa e tentar excluí-las ou suprimí-las de nosso comportamento.
A afirmação do filme é: todas as emoções contribuem positivamente para a formação da personalidade, precisamos então, aprender a integra-las de uma forma saudavel. Isto proporcionará um desenvolvimento emocional e de referênciais de orientação do comportamento, as cidades crescem e surgem outras novas, que nos ajudarão a superar momentos de crise.

Uma ultima observação: na modernidade muda tudo! Kkkkk

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Dessubjetivação das interações: suas consequências psicológicas e políticas. Uma analise do filme Wall-e









SINOPSE DO FILME

Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. Wall-E é o último destes robôs, que se mantém em funcionamento graças ao auto-conserto de suas peças. Sua vida consiste em compactar o lixo existente no planeta, que forma torres maiores que arranha-céus, e colecionar objetos curiosos que encontra ao realizar seu trabalho. Até que um dia surge repentinamente uma nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, Wall-E logo se apaixona pela recém-chegada.


Tese do Filme:

Quero defender que a tese do filme Wall-E seja a de que o aumento na complexidade social seja a causa objetiva do grau de incerteza e que isto, por sua vez, produza a desubjetivação∕despersonalização nos relacionamentos como forma de redução da ansiedade existencial.

Subtese do filme:

A aprendizagem de alguns aspectos da tradição pode descomplexificar a sociedade, diminuindo o grau de incerteza e “resubjetivando”∕”repersonalizando” as relações entre os indivíduos.

Sinopse do Filme:



Dessubjetivação das interações: causas sociais.


                Em Wall-E vemos uma sociedade erigida a partir da prática do consumo como critério legítimo de tomada de decisões, critério esse que atinge nível político ao ponto de que conglomerados comerciais privados passam a assumir e a determinar as escolhas da sociedade. Isto em nível político∕coletivo, mas também na esfera pessoal.
                Despersonalização significa a incapacidade de “enxergar” as necessidades legítimas do Outro e agir para supri-las. Os seres humanos no espaço padecem deste processo. Exemplo, quando Johnn cai de sua cadeira, no meio do transito, nenhum outro ser humano se importa com o fato. Wall-E, no entanto, se prontifica imediatamente a auxilia-lo, mesmo sob o risco de perder de vista sua amada, que motivava a sua demanda.
                Estes seres humanos perderam a capacidade de discernir sobre bem e mal, eles carecem de que robôs lhes deem essa noção e se prendem aos protocolos estabelecidos pelo sistema.
                A crítica do filme nesse sentido converge para a teoria política da filosofa alemã Hannah Arendt sobre a colonização da esfera publica por interesse privados. Critica posteriormente assimilada e desenvolvida pelo filosofo social Jurgen Habermas.
                Arendt e Habermas consideram a esfera pública aos moldes da hagora (ἀγορα) grega, isto é, a praça pública onde as discussões sobre as necessidades da cidade surgiam e eram discutidas pelos cidadãos (cf. Arendt, 2009, p. 60). Na esfera pública são tematizados os interesses coletivos legítimos que devem ser transformados em políticas publicas para o bem da coletividade (cf. Habermas, 2002, p. 138).
                Segundo esses autores, na sociedade do consumo a possibilidade de uma esfera pública ativa e representativa é nula, posto que numa sociedade como essa a colonização dos temas de discussão pública é feita em função de interesses privados∕indivíduais∕egoístas e motivados pela esfera econômica.
                Esta realidade é apresentada em vários momentos do filme, mas pode se destacar as cenas iniciais do filme, quando Wall-E passeia entre os detritos deixados para trás, na terra. Nesse momento vemos que o tornou a terra o repositório de lixo abandonada pelos humanos foi exatamente o que a critica de Arendt e Habermas fizeram. Isto é, a exaltação da cultura do consumo e a delegação das decisões políticas aos conglomerados financeiros – a Buy n Large no filme representa estes conglomerados. A exaltação da cultura do consumo é um indicativo do processo onde a síndrome da gratificação imediata passa a se tornar uma estrutura de pensamento que determina a forma de agir e de pensar dos indivíduos.
                Essa síndrome é causada, de forma objetiva, pelo medo de fazer escolhas erradas. O medo, por sua vez, segundo Pires (2012), é causado pela pluralidade de opções aliada à falta de critérios que dão sentido para as escolhas – processo de secularização e de desencantamento do mundo (Weber, 2004) – tornando o indivíduo o único responsável pelas escolhas que faz (Bauman, 2008).
                Erich Fromm identifica esta síndrome ao fortalecimento do egoísmo como parâmetro legítimo para as interações modernas. Para o autor este egoísmo é uma forma de proteção psicológica utilizada pelo indivíduo para se proteger da incerteza das escolhas certas a serem feitas no cotidiano moderno que foi destituído de referenciais de certo e errado (cf. Fromm, 1983, p,90-113)
                Além disso, o filme propõe uma inversão: nele os seres humanos são os robôs.
                Os robôs antropomorfoseiam características tipicamente humanas nas suas interações. Características como: medo, raiva, paixão, aprendizagem aparecem constantemente nas relações que os robôs estabelecem entre eles e com o mundo que os cercam.
                Exemplo disso, são os robôs Mo, robô de limpeza, compulsivo por limpar que persegue Wall-E pela nave, ele apresenta emoções como raiva, frustração e depois um nível baixo de afeto, mostrado no final do filme quando enfim consegue limpar Wall-E se torna amigo deste. O robô que fica preso do lado de fora da nave, quando EVA e Wall-E regressam de sua “dança” no espaço, mostra desespero por ter sido trancafiado de fora da nave. Os robôs com defeito que passam a seguir Wall-E, todos eles desenvolveram outros sentidos para viver as funções (diretrizes) que lhes eram atribuídas.
                Um segundo aspecto dessa antropomorfesização é a metáfora implícita do filme. O ser humano como um robô. Significa a assimilação da cultura do trabalho como característica identitaria basilar do homem moderno.
                O robô se identifica por sua diretriz. Ele é aquilo que ele faz. A cultura do trabalho, contemporaneamente, também nos caracteriza. Este é um aspecto tipicamente moderno, herdado por nós, neomodernos. Nos tornamos nossas profissões, seres sem passado ou sem história que ultrapasse o que é realizado na atividade profissional.
                O trabalho tematiza nossas conversas, nossa vida se organiza em função de um bom desempenho no trabalho, quer dizer, o tempo de descanso está em função da necessidade de se voltar ao trabalho e exibir uma boa produtividade. As conversas com amigos giram em torno do que é feito no trabalho, ou do que terá que ser feito. O trabalho ganha status de atividade fundamental da vida humana, se confundindo com outras áreas da vida pessoal do indivíduo.
                O trabalho se torna importante na modernidade como forma substitutiva de instituições sociais que davam sentido para a vida, como a religião. Isto porque o trabalho estabelece uma rotina e uma função para os trabalhadores – robôs agem segundo uma diretriz, quer dizer, eles tem uma função a desempenhar, função que é repetida monotonamente todos os dias.
                Numa sociedade complexa o nível de incerteza cresce em função do número de possibilidades de escolhas a serem feitas e em função também da diminuição da importância de instituições sociais que dão sentido às ações dos indivíduos, como religião, ética e família. Em tais contextos é possível falar do trabalho como uma compulsão. Que tem finalidade nela mesma. Os robôs do filme, todos eles, apresentam comportamento neurótico compulsivo em realizar suas tarefas.
                Apesar de apresentar este comportamento também, Wall-E se distingue dos demais. Por que?
                Wall-E por algum motivo se desliga da “realidade robótica”. Ele desenvolve uma personalidade distinta. Gosto por colecionar artefatos antigos relacionados à cultura terráquea deixada para trás.
                Isto nada tem a ver com desejo de transgredir, como explicaria a teoria freudiana com seus mitos fálicos de explicação das origens instituais do comportamento e da estrutura cognitiva do ser humano.

Tradição e formação da consciência.


                Quero identificar isso com o desenvolvimento do gosto pela tradição. Wall-E aprende a amar, a ter honra, a ser solidário. Ele não faz isso em atitude de insurreição aos seus criadores, Wall-E mantém o senso de cuidado e de expectativa de regresso dos seus criadores. O filme começa com a música “out there” (lá fora) que é um indicativo da esperança de encontrar alguém perdido num lugar fora e distante.
                Wall-E aprende a ser solidário e a dar valor ao cuidado. Ele aprende a valorizar o Outro. Suas ações são de cuidado, primeiro com a barata, depois com EVA, por fim com os seres humanos – ato sacrificial para garantir a possibilidade de regresso para a terra.
                É este aprendizado, esta assimilação dos valores tradicionais de uma cultura humana há muito perdida que ressignifica a função diretriz de Wall-E, que o torna singular ante os outros robôs. Que o personaliza e que torna possível a subjetivação das suas relações.
                Wall-E também fomenta ideais românticos – que o leva a se apaixonar pela beleza impar de EVA. Mas, deve-se notar que a concepção de relacionamento de Wall-E com EVA também é distinta de uma concepção individualista de amor. O amor erogenizado da versão freudiana não aparece nessa relação. Antes a concepção de amor representada na atitude de Wall-E, é constituída por um tipo de afetividade – ilustrada pela canção: La vie em rose, na belíssima interpretação de Louis Armstrong (a canção original é de Edit Piaf) – e traduzida na prática, pela atenção que o pequeno robô dispensa à viajante das galáxias e ao serviço e cuidados que lhe dispensa também.
                Estas características distintivas de Wall-E são apreendidas pelo robô com a assimilação da tradição cultural. Esta é responsável por diminuir, para o Wall-E o nível da complexidade social e consequentemente da ansiedade garantindo-lhe uma direção estável de quais as decisões ele deveria tomar.
                Decisões individuais que chegam ao nível político. O robô lixeiro que inicia sua viagem ao espaço em busca do seu ideal romântico consegue relativizar esse objetivo em função do bem estar coletivo da humanidade, ao fazer o sacrifício desafiando Auto o sistema de controle da nave espacial. E em seguida se colocando em risco para segurar a plataforma onde a planta deveria ser colocada para iniciar o regresso para a terra.
                Essa restituição da capacidade de discernir sobre o bem e o mal a partir da aprendizagem da tradição também é ilustrada no processo em que o capitão da nave é transformado.
                O capitão é um homem levado pelo sistema, como os outros seres humanos naquela nave o haviam sido há setecentos anos. Quando EVA lhe entrega a planta e a possibilidade de voltar para casa é despertada no capitão a crença sobre a continuidade da rotina é quebrada.
                Quando o capitão entra em contato com um pouco de terra deixada por Wall-E e passa a estudar a tradição da cultura e história humana é despertado nele uma nova forma de consciência. A consciência de quem ele é, do que deve fazer e da sua responsabilidade real como capitão.
                Baseado nessa nova consciência ele percebe, ao olhar para as fotos dos capitães que o precederam, uma tradição de manipulação e decide agir para restituir a liberdade das escolhas aos humanos. Ele faz isso indo contra o comodismo consumista heteroimposto pelo sistema representado pelo robô Auto.

Tradição e aprendizagem: Possibilidades de formação da consciência e de engajamento político.


                A subtese do filme é de que a tradição, ao contrário da critica freudiana, pode estabilizar as ações humanas dando a estes segurança ao apontarem possibilidades de direção para as suas ações. Wall-E e o capitão da nave são os representantes mais bem acabados dessa subtese no filme.
                Tal subtese se pauta, ou se aproxima, da critica marcusiana a cultura contemporânea. Em, O homem unidimensional, o filosofo social Hebert Marcuse teoriza sobre a necessidade do conflito para a estruturação do aparelho cognitivo humano. Marcuse parte da leitura freudiana onde a estrutura cognitiva do ser humano é construída a partir da relação dinâmica e conflitiva entre ID e Superego, que produz o ego. O principio da realidade que limita e cerceia o desejo humano, segundo o autor, seria um “mal necessário” para o desenvolvimento humano.
                A partir dessa estrutura castradora, presente na tradição e na cultura humana é que o indivíduo aprende a lidar com perdas e a se preparar para desafios que lhes são impostos na esfera publica.
                Marcuse critica a estrutura da sociedade moderna que diminui o valor das instituições formadoras de sentido e determinantes das ações. Segundo ele, essa secularização da realidade moderna é responsável pela extinção do principio da realidade e causadora da dessublimação institucionalizada, que segundo o autor é um fator vital na formação da personalidade autoritária presente na sociedade contemporânea (cf. Marcuse, 1973, p. 84). O autor explica que quanto maior a liberdade para o indivíduo tanto maior a contração das necessidades instintivas, isto é, individualiza mais e diminui-se a possibilidade de resistência.
                Para ele, a civilização industrial desenvolvida opera com um grau maior de liberdade sexual. É uma das realizações dessa sociedade, possibilitada pela higienização e pela otimização do trabalho e seu ambiente. A indevassabilidade dos edifícios e consequente publicização da vida privada também contam como variáveis da “nova socialização” que complementa a deserotização do ambiente. O sexo é integrado ao trabalho e às relações publicas, sendo assim tornado mais suscetível à satisfação (controlada).
                Essa mobilização e administração da libido pode ser a responsável por muito da submissão voluntária, da ausência de terror, da harmonia preestabelecida e aspirações socialmente necessários. A conquista tecnológica e política dos fatores transcendetes da existência humana afirma-se aqui na esfera instintiva, diz Marcuse.
                O autor procura indicar que o principio da sociedade capitalista moderna se assenta nessa dessublimação institucionalizada. E nesse sentido, a satisfação gera um estilo de vida que produz a submissão e enfraquece a racionalidade de protesto. O âmbito da satisfação socialmente permissível é ampliado, mas o principio do prazer é reduzido. A ampliação da satisfação socialmente concedida proporciona a perda da consciência em razão das liberdades satisfatórias concedidas por uma sociedade sem liberdade. Uma sociedade que a sua liberdade é a de escolher o que lhe for determinado. Isto favorece uma “consciência feliz” que facilita a aceitação dos malefícios dessa sociedade. A função da dessublimação na sociedade industrial é a produção do conformismo (cf. Marcuse, 1973, p. 85).
                Ora, essa é exatamente a descrição da estrutura social em que os seres humanos do filme Wall-E estão enredados. Não apenas na nave, mas muito antes de partir para o espaço estes humanos já estavam inseridos na estrutura social onde o critério para tomada de decisões era o estilo de vida hedônico, como foi dito no inicio.
                A restituição dos sentidos tradicionais ao capitão é o que possibilita a este a tomada de consciência e a possibilidade de julgar se Auto estava certo ou errado, e então, decidir o que fazer para o bem coletivo, uma ação individual, mas também política.

Envolvimento: a decisão pela experiência como alternativa para a cura.


                Mas ainda há outra tese presente no filme. A de que a mudança social não pode ser apreendida apenas teoricamente ela deve ser experimentada nas ações em direção ao outro.
                EVA só é despertada do seu entorpecimento para o mundo do trabalho quando o capitão instala nela um projetor holográfico que projeta as imagens de sua câmera de segurança. Ali ela entra em contato com o cuidado que Wall-E dispensou a ela, mesmo quando ela não podia ver esse cuidado. É então que EVA percebe a alternativa para sua forma de vida que é proposta na performance prática de Wall-E.
                Essa performance libertadora, de Wall-E, atinge não somente a EVA, mas ao capitão também, que presencia seu sacrifício ao proteger a planta de Auto, ao pequeno Mo que presencia a decisão de Wall-E de EVA deveria cumprir sua diretriz levando os humanos de volta para casa em detrimento de risco da própria “vida” Wall-E.
                A cena final, onde a subjetivação∕personalização das relações e do próprio indivíduo é devolvida a Wall-E pelo “beijo” de EVA também indica a necessidade desse contato experiencial para a “libertação” da despersonalização que Wall-E tinha passado.
                Essa cena dialoga com a cena de outro filme, a saber, Gênio Indomável. Na cena na conversa no parque entre o terapeuta Sean e o problemático paciente Will Hunting o terapeuta alerta. O conhecimento teórico é capaz apenas de produzir mais psicopatologias e espírito de competitividade. Para a humanização de um relacionamento é necessário que haja imersão na experiência, que haja interesse de ambas as partes e abertura. Que haja envolvimento e experiência. Relações superficiais como as criadas no mundo do trabalho e consumo só podem produzir mais experiências superficiais e destituídas de sentido, aprofundando o problema já existente.
                Wall-E é um conto infantil que faz uma critica inteligente a estrutura das relações contemporâneas baseadas na segurança pueril criada pelo mundo do trabalho, pela incerteza da falta de referenciais de éticos (tradição) para tomada de decisões e que fala da consequência subjetiva destas transformações contemporâneas, tanto quanto das consequências macropolíticas que elas ganham.

Referencias:


ARENDT, Hannah. A tradição e a época moderna. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2009, p. 43-68.
BAUMAN, Zygmunt. Critica – privatizada e desarmada. In: A sociedade individualizada. Vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p. 129 – 141.
FROMM, Erich. Os dois aspectos da liberdade para o homem moderno. In: O medo à liberdade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, p. 90 – 113.
GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
HABERMAS, Jürgen. A entrada na pós-modernidade: Nietzsche como ponto de inflexão. In: O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 121-151.
MARCUSE, Hebert. A ideologia da sociedade industrial. O homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1973.
PIRES, Anderson. A sociedade do glamour, ética do consumismo e a ontologia da verdade. In: Revista brasileira de psicoteologia. Disponível em: <>. Acessado em: 22-04-2013.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.







Anjos Rebeldes e a Estrutura de Dominação da Sociedade Irreflexíva


Neste fim de semana revi um filme que havia assistido há um tempo atrás. Reescrevi o comentário sobre ele. Espero que gostem. O nome do filme em português é Anjos Rebeldes, Iron Jawed Angels (2004) o original em inglês.

ELENCO






O filme se passa no período a partir de 1912. Esse filme é estrelado pela já conhecida Hilary Swank, que ficou muito conhecida ao contracenar e ser dirigida por Eastwood em Menina de Ouro (2004), mas que tem outros sucessos no curriculo como Meninos não Choram (1999), Dalia Negra (2006) e o recente P. S. Eu te Amo (2007) em que contracena com Gerard Butler.
No drama de duas horas produzido pela HBO Films, dirigido por Katja von Garnie e co-estrelado por Margo Martindale , Anjelica Huston, Frances O'Connor, Lois Smith e Patrick Dempsey (Ben Weissman) Iron Jawed Angels Swank esta primorosa no papel da quaker feminista que junto a amiga Lucy Burns (Frances O'Connor) vai encontrar a líder reverenda Anna Howard Shaw (Lois Smith), que preside a Associação Nacional das Mulheres Sufragistas e tem Carrie Chapman Catt (Anjelica Huston).


SINOPSE


Alice, personagem de Swank, discorda da postura conservadora de Anna e pensa haver modos mais aguerridos de conseguir a aprovação da ementa que permite que todas as mulheres americanas votem e com isso organiza, não sem resistência, uma passeata em Washington D. C. no mesmo dia da posse do presidente Woodrow Wilson (Bob Gunton). 
Alice torna-se chefe das comitê da ANAMS em Washington, mas terá que arrumar fundos sozinha para fazer a passeata. Junto à Lucy, Alice organiza o comitê e conseguem apoio de algumas trabalhadoras de uma fábrica onde conseguem o apoio de Mabel Vernon (Brooke Smith) também se junta a elas e Ida Wells-Barnett (Adilah Barnes), uma negra de Chicago, aparece para dizer que marchará na passeata, mas não aceitará a idéia de que as negras fiquem na parada em separado, atrás.

É muito interessante a discussão que se segue, porque debate sobre a comodidade em que o movimento feminista inicialmente adotou relegando as negras à uma postura de sujeição política que refletia a sujeição imposta às mulheres pelos homens. A personagem de Swank é colocada em uma situação de refletir sobre a reprodução da dominação que até aquele momento estava invisibilizada sob o discurso libertacionista que produziam, mas que omitia a evidente situação de comodidade para elas. Porém, vou falar sobre isso mais adiante. 

Alice e companheiras, então comparecem a um encontro social com a finalidade de levantar fundos para a passeata e para o comitê, ali ela, Alice, conhece Ben Weissman (Patrick Dempsey), que trabalha como desenhista no Washington Post, e Inez Millholland (Julia Ormond), uma advogada trabalhista que tem ideias que se afinam bem com as de Alice. Inez é convidada a participar da passeata personificando uma guerreira. No dia da passeata muitas pessoas foram aplaudir ou protestar, enquanto Wilson era praticamente ignorado ao chegar na capital. Entretanto na parada o clima era cada vez mais tenso, pois os que protestavam se mostravam agressivos. A polícia "se distrai" e deixa os insatisfeitos invadirem a pista, para agredir quem estava na passeata. Isto resulta em 100 feridos e enquanto o conservadorismo de Carrie critica o que aconteceu, Alice e suas amigas encaram como uma vitória, pois a publicidade foi imensa e os jornais disseram que a culpa do tumulto foi negligência policial, com o Post exigindo uma investigação. Assim, antes que as feridas se curem, uma delegação foi se encontrar com Wilson, que foi evasivo sobre o voto para as mulheres, pois sabe que Anna Shaw não o pressionará. Elas então adotam um estratégia mais dinâmica, mas o que as espera seriam incapazes de imaginar.
Montam piquete na porta do presidente Wilson o que é interpretado como um esforço antipatriótico, posto que os Estados Unidos acabaram de declarar seu envolvimento com a guerra e as feministas são uma a uma presas, até que finalmente e sob protesto das companheiras a própria Alice é presa. 
Na cadeia sob tortura, Alice decide-se por uma postura radical de protesto para chamar a atenção da imprensa, que acompanhava através de Ben e das autoridades através do senador Thomas Leighton (Joseph Adams), que tinha sua mulher Emily (Molly Parker) presa como uma das feministas, o martírio da líder feminista e das suas companheiras.
O esforço leva Alice à beira da morte. Mas com isso ela consegue promover a comoção que gera a pressão para a aprovação do voto feminino universal.


COMENTÁRIOS


Anjos Rebeldes é um filme forte. Tem ritmo, uma fotografia excelente, interpretações sóbrias e uma trilha sonora equilibrada e que dá bem o clima.
Mas o que mais chamou minha atenção foi que o filme consegue transmitir com sutileza que por traz de uma situação de dominação existe sempre uma cultura da não reflexividade. No caso de Iron Jawed Angels, tal cultura é promovida pela cultura patriarcal, a postura do senador Thomas Leighton, por exemplo, grita o esteriótipo dessa cultura quando ele condena a esposa e que brada que lugar de mulher é em casa cuidando das crianças ou quando se nega a visitar a esposa na cadeia... 


REFLEXÃO


A modernidade bradou contra os paradigmas tradicionais em seu empreendimento libertacionista e promoveu o "esclarecimento" dos homens e das mulheres destas amarras que os prendiam e impediam uma existência de igualdade, que fosse baseada nos méritos do indivíduo em sim. Ao fazê-lo iniciou-se um processo de individualização que permitiu o surgimento de movimentos como o feminista ilustrado no filme acima comentado, mas a ausência de direção assumida a partir de então nos levou para outro extremo, um pólo antagônico aos ideais de valorização do ser humano idealizados pelo movimento do iluminismo.
A este respeito também podemos ressaltar o filme Idiocracia que ressalta que em nossos dias predomina uma "filosofia bigbrotheriana do vamos curtir" donde a sociedade produtora e reprodutora desse ethos social considera a sabedoria uma idiotice e venera uma cultura do prazer e esta viciada no prazer. Um artigo escrito por Madaleno ressalta:



"A alemã Hannah Arendt, há algumas décadas, preocupou-se com esse lugar entre o passado e futuro ao qual chamamos presente. Para ela, o desinteresse pelo passado (e por valores tradicionais que sustentaram as relações humanas durante séculos) tornou o futuro incerto, criando um senso de desorientação no presente. Para o pensador polonês Zygmunt Bauman, na modernidade líquida em que vivemos (onde os ideais e valores que predominaram na modernidade sólida da fé na ciência escoam pelo ralo) não há certezas quanto ao futuro e o medo predomina na subjetividade das pessoas. Neste mundo, desenvolvemos uma persistente intolerância a tudo que nos entedie. Com o controle da TV ou o mouse à mão, nos “divorciamos” rapidamente de tudo que não desperte o nosso interesse imediato. E  o que desperta interesse? O critério-chave adotado pelo homem contemporâneo tem sido: interessa apenas aquilo (e aquele) que possa produzir resultados e que viabilize a autossatisfação. Trata-se de uma sociedade infantilizada, incapaz de suportar a espera e de atender à exigência de esforço que é parte de todo processo de amadurecimento. "


Assim o psicologo completa falando sobre o compromisso da mídia contemporânea em alimentar de entretenimento irreflexívo um público cada vez maior de falantes produtores de uma demanda hedônica como forma-de-existir-no-mundo. Assim ele reflete:



"A ordem do momento é falar o que se pensa e se sente. Todavia, aquilo que tanto se quer dizer termina por mostrar, frequentemente, a superficialidade do pensamento idiotizado, ou seja, centrado no próprio indivíduo. Ouvir tornou-se uma tarefa desinteressante, ignorada e, por vezes, ridicularizada. Logo, o discernimento que leva a saúde (em seu sentido mais amplo, ou seja, biopsicossocial), tornou-se raríssimo".

E conclui



"Na sociedade idiotizada dos falantes sem disposição para ouvir e ansiosos por falar, a distância cognitiva e de autoridade entre crianças e adultos tem se tornado cada vez menor".


Os desdobramentos sociais do movimento de insurreição à toda Tradição pretendido pela modernidade ocidental, conforme é analisado por Arendt nos trouxe ao extremo oposto e hoje convivemos com a demência da infantilidade de adultos que falam o que vem a cabeça e a todo momento negam na prática aquilo que professam em discurso e fazem isso em nome de uma moral da comodidade e de uma ética do prazer.

O filme desencadeou esta reflexão porque assisti ele em concomitancia à dois eventos lamentáveis ocorridos na faculdade onde homens supostamente esclarecidos manifestaram a estupidez da agressão contra mulheres em nome de detalhes estéticos e da pura afirmação da autoridade masculina.
Tão absurda quanto essa reação irreflexíva que, a priori, ecoa um tradicionalismo retrogrado é a atitude de conformismo daqueles que a presenciaram sem manifestar indignação alguma clara e declaradamente reproduzindo uma postura de acomodação em nome da busca por aceitação e pelo prazer. Se se envolver significa militar políticamente e com isso negar ou pelo menos adiar a possibilidade de satisfazer as pulsões que motivam, de forma subconsciente nossas ações - o eros é o critério de tomada de decisões na modernidade líquida - então preferimos nos furtar a esse exercício.
Voltando ao filme, Alice Paul lutou contra a irreflexívidade asfixiante do machismo de seus tempos, mas hoje não temos heróis ou heroínas que lutem contra a irreflixívidade infantilizadora de nossos dias, pois na sociedade idiotizada, é mais fácil dar de ombros e considerar hilária e inapropriada a ação de tentar viver diligentemente lendo nas entrelinhas as mensagens de uma forma de viver despreocupada e descompromissada da sociedade hedônica que oprime a todos, hoje as mulheres, amanhã, quem sabe, você (?). E assim, denunciamos com nossa prática irreflexíva a corrosão do sistema de valores, bem como corroboramos a tese de Arendt de que vivemos enclausurados em um presente sem passado, onde um filme que nos lembra as grandes lutas pela libertação da dominação masculina não passa de um entretenimento para divertir, assim como o dia das mulheres não passa de uma data comercial, e que o futuro não possui sentido ou valor pois não é uma possíbilidade a ser pensada, mas de onde emana a desconfiança (o medo como acentua Bauman) de que nada seremos. Para viver num mundo assim, somente sendo idiotas que vivem aprisionados pelas pulsões externas e internas que os pressionam e que os impelem, ou como loucos hilários que sobre tudo refletem e protestam, mas que por ninguém podem ser atendidos...
Este é o triste fim que levou as lutas das mulheres por seu lugar na sociedade, o direito de votar está aí. Mais firme do que nunca, mas perdeu seu sentido posto que não há ideologias, ou melhor, não há lutas a serem travadas no campo público a não ser a luta pelo próprio bem-estar de cada um onde cada um esta cada vez mais sozinho.

Depois do filme conversei com minha namorada, não foi "d. r." mas uma edificante reflexão sobre o que devemos fazer para que o sentido de nossa tradição não se perca na ausência de sentido da fluidez desse mundo. Esse texto é um começo.

Estudos Anticoloniais, Pós-Coloniais, Decoloniais, Subalternos e Epistemologias do Sul

Recebi esta lista no whatsapp, enviada por uma amiga. Reposto o texto na integra para quem interessar começar a se aprofundar no tema. ...