sexta-feira, 2 de maio de 2014

ROBÔS, ZUMBIS E HUMANOS

Eis aí uma pergunta interessante: Qual a diferença entre um robô, um zumbi e um ser humano?
A primeira resposta deveria ser: Zumbis e Robôs, são seres ficcionais, enquanto seres humanos existem na realidade.
A segunda resposta (fazendo um exercício de imaginação e abstraindo o fato de zumbis e robôs não existirem objetivamente), a resposta seria: somente o ser humano possui vida.
Mas o que entendemos quando falamos sobre esse conceito, vida? Pra responder a essa pergunta proponho que façamos esse exercício de imaginação. Vamos admitir que robôs e zumbis existam objetivamente, tanto quanto seres humanos e comparar suas formas de existência, para termos claro o que se pode chamar de vida.
Ora, a vida, poderiam dizer, é a capacidade de pensar, se mover, tomar decisões e interagir com outros seres vivos.
Se continuarmos nessa linha de raciocínio, chegaremos a uma conclusão de que bem pouca coisa nos diferencia, nós seres humanos, dessas criaturas imaginárias que são os robôs e os zumbis.
Veja o robô, por exemplo, a expressão é originária de uma língua cheka, pelo escritor Karel Capec O escritor checo introduziu a palavra "Robô" em sua peça "R.U.R" (Rossum's Universal Robots), encenada em 1921. O termo "robô" realmente não foi criado por Karel Čapek, mas por seu irmão Josef, outro respeitado escritor checo. O termo "Robô" vem da palavra checa "robota", que significa "trabalho forçado".
Um robô pensa. Ele é capaz de julgar uma situação e tomar a decisão de modo a cumprir sua tarefa com eficiência. Outro escritor de ficção cientifica que se dedicou a falar como seriam esses serviçais de metal foi o russo radicado nos Estados Unidos, Isaac Asimov, ele ficou conhecido pela coletânea de contos, Sonhos de Robô, Eu Robô e O Homem Bicentenário, foi autor de mais de quinhentos contos mas esses três são os mais conhecidos e já foram parar na tela do cinema. O mais interessante nos contos de Asimov é que seus personagens robóticos são capazes de pensar segundo as Leis da Robótica, inventadas por ele.
Então, um robô pensa, se move, pode falar e interagir com o ambiente e com os seres a sua volta respeitando um determinado conjunto de leis.
E quanto ao zumbi? Um zumbi é uma criatura fictícia que aparece nos livros e na cultura popular tipicamente como um morto reanimado e por isso um ser humano irracional. Histórias de zumbis têm origem no sistema de crenças espirituais do Vodu afro-caribenhos, que contam sobre trabalhadores controlados por um poderoso feiticeiro. Esta criatura é um ser humano dado como morto que, segundo a crença popular, foi posteriormente desenterrado e reanimado por meios desconhecidos. Devido à ausência de oxigênio na tumba, os mortos vivos seriam reanimados com morte cerebral e permaneceriam em estado catatônico, criando insegurança e medo nos vivos. Como exemplo desses meios, pode-se citar um ritual necromântico, realizado com o intuito maligno de servidão ao seu invocador.
A figura dos zumbis ganhou destaque num gênero de filme de terror, principalmente graças ao filme de 1968 "Night of the Living Dead" de George A. Romero.
Por fim, vamos falar do ser humano. Conforme debatemos no ultimo texto, e nas aulas que se seguiram, o que caracteriza o ser humano é a capacidade de produzir e reproduzir cultura. A partir dessa especificidade ele se relaciona com o mundo.
A cultura é a “programação” que é inculcada em cada um e em todos nós desde crianças e que nos diz como pensar, como nos portarmos nas situações e como reagirmos a essas situações que nos envolvem diariamente.
Como aconteceu no episódio que assistimos de House Medical Doctor onde o editor através da cirurgia realizada pela equipe de House tentar se reajustar à realidade. No episódio por causa de um distúrbio hormonal ele passava por situações que não conseguia se controlar e fugia às “regras” de boa conduta, ele quebrava o contrato social. Mas que graças “às maravilhas da medicina” ele pode ser “consertado”.
Um outro exemplo da cultura como programadora do comportamento humano é a sociedade de consumo que debatemos. Nessa programação a capacidade de raciocinar é excluída em favor de um sentimento, uma compulsão, a de consumir com velocidade. Como foi discutido em sala de aula, que o especifico da sociedade de consumo não é o consumo em si, mas a capacidade de autoafirmação contida no ato de apresentar com velocidade produtos novos e sempre novos, criando assim uma sensação de poder e de aceitação por parte daqueles que estão à volta ao mesmo tempo em que essa mesma velocidade gera a sensação de vertigem por não ter o tempo necessário para raciocinar sobre as escolhas que estamos fazendo.
Ao ser definido como um ser social, quer dizer, um ser que depende da cultura compartilhada, então, o ser humano exibe dois aspectos fundamentais da sua existência. Ele depende de sua adequação a essa cultura, pois se não se adequa ele pode ser excluído da sociedade, que foi o caso do paciente do dr. House. Por outro lado se ele se integra totalmente à cultura pode se transformar em um ser incapaz de pensar realmente.

Nesse ultimo sentido, nos aproximamos perigosamente de uma existência como a dos robôs e dos zumbis. Se aceitarmos tacitamente o que a cultura nos diz sem uma previa reflexão passamos a ser meros cumpridores de ordens com caminhos préprogramados como os robôs. E dentro de uma cultura de uma sociedade de consumo como a nossa que produz desejos que nos impulsionam a andar como que vagando para uma mera satisfação de pulsões internas passamos a nos assemelhar aos zumbis. Que só conseguem pensar em satisfazer esses desejos que os impulsionam.
Foi nesse sentido, de refletir sobre o que motiva cada um que o professor, interpretado pelo ator Robert Redford no filme Leões e Cordeiros, chamou seu admirável aluno Toddy para conversar. O professor percebeu em Toddy, inicialmente, essa determinação de não aceitar como algo natural qualquer coisa que tentassem “empurrar” para ele. Em um dado momento do filme ele retruca para um colega: “Eu não li o texto mais eu sei pensar”. Com isso ele quis dizer que não precisa aceitar algo somente porque as pessoas estão dizendo que isso é o certo para ele.
Essa tendência, de querer nos forçar a aceitar tudo como algo natural e preestabelecido é uma característica da cultura e se humanizar, entrar no processo de humanização, significa não aceitá-la de forma acritica, mas sim pensá-la e somente então decidir se é de fato o que queremos ou não. Essa ação foi expressa por atos pelos outros dois alunos no mesmo filme através de uma expressão, o engajamento.
Para se tornar um ser humano em nossos dias é necessário se engajar, conhecer o sistema que nos cerca e nos condiciona e então decidir se queremos ser mais uma engrenagem nesse sistema ou se queremos desarticulá-lo.
Não fazer isso, significa que você pode estar se transformando num zumbi ou num robô. O filme citado termina com o personagem Toddy assistindo pela tv a nova ofensiva amerina ao Iraque, tal cena quer transmitir, simbolicamente que a decisão de o que fazer com a própria vida depende de cada um dos que estão assistindo.

O que você vai fazer?

Um comentário:

  1. Puxa Marcos,
    Amei este texto... ele já foi tema de troca de ideias aqui entre meus colegas de trabalho.
    Um abraço,
    Raimunda

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